Page 54 - Nos_os_bichos
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se. Todos os elementos das duas famílias e das suas equipas se riram, pois ele era magro, fraquinho e o mais
                  tímido da família dos ratos vermelhos. Os chefes acharam aquela reação coletiva de mau gosto. Num impulso,
                  o chefe dos vermelhos ordenou que se calassem e, apesar de ter pouca esperança, admirou a coragem daquele
                  jovem inseguro e franzino que acabara de ser rebaixado pela própria família. De seguida, aceitou João na

                  equipa, pois assim, ao menos, haveria competição.
                        E fez bem! É que, afinal, o João era muito bom a apanhar queijos. Ser tímido não era um problema e,
                  claro, ser magro era uma grande vantagem, pois tornava-o mais rápido!
                        Ironicamente, a competição acabou com um empate, muito graças ao contributo

                  do João, que se revelou o mais habilidoso da sua equipa. As duas famílias ficaram
                  igualmente espantadas com este facto e acabaram por aprender uma grande lição: não
                  devemos discriminar alguém por ser diferente, pois cada um é como é, quer seja azul,
                  vermelho, tímido, extrovertido, gordo ou magro…

                        Foi assim que as duas famílias se tornaram amigas e, desde esse dia, grandes
                  aliadas.
                                                                                            Patrícia Gomes

                        Eu e os outros



                        O Inverno estava a chegar e, como tal, os animais daquele local começaram a preparar tudo para
                  providenciar alimento e bem-estar naquela que é a estação do ano mais difícil e rigorosa.
                        Um dia, depois de alguns preparativos, um esquilo e uma toupeira decidiram mostrar os seus abrigos um
                  ao outro para se exibirem, na esperança de poderem despertar a inveja um do outro.

                        Primeiro, foi o esquilo a casa da toupeira:
                        -Eia! É enorme! – exclamou o esquilo, admiradíssimo.
                        -E isto é só a entrada.- gabava-se a toupeira.
                        Era uma casa grande e muito luxuosa, mas parecia não haver nenhuma comida no abrigo da toupeira.

                        -Então, mas onde é que guardas os alimentos para todo o inverno? – perguntou o esquilo.
                        -Lá ao fundo, naquele espaço grande. – respondeu, atrapalhada a toupeira.
                        O esquilo ouviu, espreitou, mas não viu nada. Será que a toupeira não preveniu a vinda do inverno? Para
                  quebrar o silêncio, o esquilo disse:

                        -Vamos ver a minha casa?
                        Ela aceitou.
                        Entusiasmado, o esquilo abriu a porta do seu buraco na árvore e mostrou-lhe a fartura que havia no seu
                  abrigo. A toupeira, como via mal e era muito grande, sentiu-se apertada, bateu em tudo e mais alguma coisa -

                  sobretudo em comida, muita comida - mas não disse nada.
                        - O que é que guardas nestes móveis? – perguntou a toupeira, curiosa.
                        -Aí guardo as bolotas para comer no inverno. – respondeu o esquilo.
                        Ainda havia mais comida nos armários? A toupeira sentiu uma pontinha de inveja a querer dominar o

                  seu coração, mas lutou contra esse sentimento. A verdade é que tinha que tomar decisões na sua vida. Foi

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