Page 55 - Nos_os_bichos
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assim que começou a planear mudanças ao seu grande espaço, tendo decidido preparar melhor a vinda do
inverno com uma despensa, não só grande mas sobretudo recheada.
Passaram-se alguns dias…
O coração dos animais – tal como o dos homens – nem sempre se consegue livrar dos maus sentimentos.
E a verdade é que o esquilo tinha inveja do luxo da casa da toupeira. E a toupeira invejava a fartura que havia
na despensa do esquilo.
Entretanto, na floresta não se falava de outra coisa: a toupeira e o esquilo tinham inveja um do outro!
Apercebendo-se do ridículo da situação e dos sentimentos, ambos começaram a melhorar os seus
abrigos: o esquilo aumentou a sua toca na árvore e a toupeira fez uma divisão nova que encheu de mantimentos
para o inverno.
O Inverno passou e o esquilo e a toupeira perceberam que não tinham agido bem um com o outro. O
que interessava não era exibirem-se ou cobiçarem o luxo ou a fartura um do outro; cada um deve ter aquilo de
que precisa, aquilo que lhe faz realmente falta.
Perceberam também que o que é bom para um pode não ser para outro.
Claro que, passada a fase da inveja, a toupeira e o esquilo acabaram por se
tornar grandes amigos.
Ricardo Santo
As irmãs mentirosas
Num certo jardim de flores, existia um pequeno buraco onde morava uma família de toupeiras, a família
Madureira, que era conhecida na escola por ser radical e por já ter visitado e viajado pelo mundo quase todo.
Mas isso era mentira, na verdade eles não eram nada viajados, apenas faziam com que todos acreditassem em
tudo o que diziam e acostumaram-se a inventar histórias sobre viagens que nunca tinham feito.
Depois de umas longas férias em casa sem fazerem absolutamente nada, as crianças retornaram à
escola. As toupeiras eram as mais populares da escola por supostamente terem uma vida luxuosa.
Um dia, as três irmãs Castilha, Maps e Roberta foram para um certo lugar na escola que era meio que
escondido, para tentarem resolver um problema para um trabalho de Geografia. A professora Lontra Carnuda
havia pedido para os alunos, em grupos de dois ou três, fazerem um trabalho acerca de um país que eles já
teriam visitado ou por onde tivessem viajado, mas, como o mais longe que elas tinham ido era o Centro Comercial
da cidade vizinha e, como elas tinham a fama de serem “viajadas”, tinham de pensar em alguma solução para
este problema. A professora tinha pedido também que, junto com o trabalho, os alunos trouxessem uma
fotografia do lugar escolhido (alguma paisagem, comida típica, “selfie”…), o que lhes dificultava ainda mais a
situação. Elas sabiam que, mais tarde ou mais cedo, a verdade seria descoberta, mas elas não sabiam que seria
assim tão cedo…
Depois de um longo dia de aulas, as três voltaram para a toca a pensar como iriam fazer aquelas tarefas
sem ninguém notar que andavam a mentir.
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