Page 13 - Revista Mundo História
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Tradicionalmente, quando Colombo chega em 12 de outubro de 1492 à uma ilha
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que acredita ser um arquipélago adjacente ao japão, fatalmente descobre a América . Quando
Colombo atribui a ideia do descobrimento de terras virgens, não é necessariamente um fato,
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mas uma interpretação sobre o fato . Em outras palavras, o nosso objeto de estudo não é o
descobrimento em si, mas a concepção da América ter sido descoberta.
Para entender melhor esta forma pós-moderna de fazer ciência, recorreremos a
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Nietzsche e sua “desconstrução da causalidade” . Segundo ele “Se o efeito é o que causa que
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a causa seja uma causa, então o efeito, não a causa, deve ser tratado como a origem”(119) ,
concluindo, não há fatos apenas interpretações. No nosso contexto, as grandes navegações são
efeito de uma causa construída no cenário europeu.
Dito isto, vamos discutir um pouco sobre como se deu a ideia do
descobrimento vista por diferentes narradores, em diferentes épocas, considerando suas
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interpretações. Comecemos pela “lenda do piloto anônimo” :
A lenda é contada pelo padre Bartolomeu de Las Casas, onde os colonos da Ilha
Espanhóla (atualmente Haiti), em 1494 dizem que o motivo de Colombo fazer a travessia foi
para descobrir a América, baseado por informações de um piloto “cuja embarcação havia sido
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lançada às praias por uma tempestade” . É importante notar que o motivo da viagem aqui era
de revelar terras desconhecidas, e não chegar ao extremo oriente da Ásia como na crença do
1 O'GORMAN, Edmundo. A invenção da América. São Paulo: Unesp, 1992. p.25
2
Ibidem, p.25-26
3
ANKERSMIT, Frank. Historiografia e pós-modernismo. In: Topoi, vol. 2, n. 2 (2001), pp. 113-
135; ZAGORIN
4
Ibidem, p.119.
5
O'GORMAN, Edmundo. A invenção da América. São Paulo: Unesp, 1992. p.28
6
Ibidem, p.28
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