Page 10 - Revista Mundo História
P. 10
ainda era objeto de controvérsias e confusão entre os especialistas da época! (BENASSAR.
1998, p. 88).
Com isso, esse progresso do conhecimento se encontrava desafiado pelo
desconhecimento da globalidade dos oceanos e das incertezas acerca do Hemisfério Sul,
favorecendo ainda mais o imaginário sobre aqueles espaços, nos qual as mais diversas teorias
se defrontaram (KAPPLER, 1994, p. 28).
Ainda, as percepções eram ofuscadas pelas interferências de dois paralelos: o
primeiro, da religião, com uma leitura literal da Bíblia, numa busca pelo paraíso terrestre.
Kappler (1994, p. 36-37) e Antonio Carlos Diegues (1998, p. 172) destacam as atenções dadas
às ilhas, sobretudo às tropicais, tomadas como universos isolados, propensos à singularidade
de maravilhas, sendo os locais mais que favoritos para uma aventura. O segundo, da
mitologia, da afeição pela Antiguidade Clássica, também possui importância na construção
dessa mentalidade sobre as ilhas — palcos de vários contos épicos —, principalmente pelo
desenrolar do processo de apego intelectual sobre o Período Clássico promovido no
humanismo.
Ocorre também, como comenta Alain Corbin (1989, p. 18-19), uma
interpretação simbólica do mar como o purgatório, ou seja, a travessia pelo mar violento é
vista como oportuno momento para se retornar ao caminho correto, assim como para o
arrependimento das transgressões humanas... Trata-se de mais um exemplo da influência
religiosa nas mentalidades da época.
Não apenas para o mar ou para as ilhas, o próprio litoral também ganha
destaque no imaginário. Por exemplo, na representação clássica, esse espaço era
constantemente tomado pelo temor de um possível aparecimento do monstro ou do
estrangeiro. Basicamente, tratava-se do lugar de onde o perigo era iminente, questão que não
se difere muito no decorrer da Idade Média: a praia era o local emanante do espírito da
catástrofe, uma vez que vestígios de naufrágio, caso mais que comum, ocupavam muito da
vista que se tinha desse ambiente, entre outras coisas (CORBIN, 1989, p. 24-25).
9