Page 9 - Revista Mundo História
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Quando  se  fala  em  expansão  ultramarina,  dificilmente  a  abordagem  das

                  representações  imaginárias  fica  de  fora  das  discussões,  seja  por  meio  da  lembrança  de
                  produções  iconográficas  e  literárias  da  época.  Como  você  certamente  leu  no  artigo  anterior

                  deve  ter  reparado  na marcante presença do imaginário nas mentalidades da época. Povoado de
                  monstros  ou  de  criaturas  estranhas,  o  vasto  desconhecido  do  oceano  e  das  terras  longínquas

                  provocava  certo horror no mundo  europeu.
                               A  ideia  do  monstro,  segundo  Claude  Kappler  (1994,  p.  15-16),  constituiu  um

                  problema  para  a  mentalidade  medieval  de  um  mundo  repleto  de  ordenações:  ele  era  a

                  encarnação  da  desordem,  era  misterioso  e  místico,  ou  seja,  se  tratava  de  uma  incógnita  que
                  necessitava  de  explicações,  de  soluções.  Sua  existência  gerava  tensão  e  medo.  Assim,  o  autor

                  aponta  que,  para  lidar  com  esse  problema,  é  importante  a  aceitação  de  que  o monstro é mais
                  uma  demonstração  do  poder  da  natureza,  sem  tornar  essencial  uma  explicação  para  tamanha

                  desordem  do  mundo  conhecido.  Além  disso,  esse  medo  presente  na  Idade  Moderna  é  uma
                  “herança”  dessa  mentalidade  medieval,  circundada  pela  Peste  Negra,  pela  fome,  entre  outros

                  elementos.

                               Com  isso  em  mente,  era  plausível  a  suposição  de  que  certos  lugares  seriam
                  propícios  às  funções  míticas  e  ao  florescimento  de  elementos  fantásticos,  por  conta  de  sua

                  natureza  e  espaço  no  universo.  Dessa  forma,  são  neles  que  as  explicações  para  a  existência

                  das monstruosidades  residem.  (KAPPLER, 1994, p. 31)
                               Porém,  não  apenas  a  preocupação  com  a  concepção  do  monstro  ocupava  o

                  imaginário  da  época,  a  noção  da  forma  do  mundo  também  era  objeto  de  dúvida.  De  acordo
                  com  Bartolomé  Benassar  (1998,  p.  86),  nos  primórdios  do  século  XV,  a  geografia  de

                  Ptolomeu  era  apresentada  ao  Ocidente:  seu  mapa  do  mundo  continha  uma  representação  bem
                  próxima  da  realidade  dos  continentes  europeu  e  asiático,  porém,  a  África,  pouco  conhecida,

                  era desenhada de maneira  muito  falha.  E a América?  Nem se imaginava  a sua existência.

                               As  inovações  cartográficas,  pouco  a  pouco,  demonstraram  certo  progresso
                  sobre  a  concepção  ptolomaica.  Porém,  apesar  dessa  progressividade,  a  noção  da  proporção

                  dos  territórios  emersos  e  dos  mares  que  circundavam  o  espaço  conhecido  pelos  europeus
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