Page 2 - Revista Patrimônio
P. 2

PORTO DA ESTRELA

            No  século  XIX,  os  portos  fluviais  da  Baixada  Fluminense
       tornaram-se  de  grande  importância  econômica  e  social  para  o
       Rio  de  Janeiro,  sede  do  Império  Brasileiro.  Mas  foi  no  século
       XVIII  que  o  Porto  da  Estrela,  localizado  às  margens  do  Rio
       Inhomirim,  hoje  pertencente  à  cidade  de  Magé,  tornou-se
       referencia  no  transbordo  do  ouro  e  pedras  preciosas  que
       desciam de Minas Gerais.
            Entretanto, a gestação da monocultura cafeeira no século
       seguinte, delineou o rumo da principal atividade econômica da
       Capitania  que  se  fortaleceu  com  a  chegada  da  Família  Real.
       Através  do  Porto  da  Estrela,  as  grandes  fazendas  de  café  do
       vale  do  Paraíba  passaram  a  exportar  sua  produção  e  importar
       junto  com  quinquilharias  europeias:  máquinas  a  vapor  para
       moverem  engenhos  de  açúcar,  artefatos  de  cobre  e  vidro,
       colchões, sapatos, escopetas, garruchas, roupas de lã, chapéus,
       instrumentos  óticos, louças  etc.  No lombo das  tropas  subiram
       os  primeiros  pianos  e  cravos  “para  deleite  das  moças
       langorosas  e  prendadas,  e  de  bacharéis  de  punhos  rendados,
       frequentadores de saraus familiares”.
            Através  desse  porto, o  Brasil  começava  a  ser  descoberto
       por  viajantes;  propagadores  do  exótico,  do  tropical,  do
       amálgama  que  iria  formar  a  nossa  cultura.  Mesmo  não  se
       destacando     pela    qualidade     literária,   deixaram    fartos
       testemunhos para reconstruirmos hoje, traços significativos da
       formação de nossa sociedade.
            Hoje, só o abandono das ruínas relembra a grandiosidade
       de  outrora,  perpetuado  nos  desenhos  de  Victor  Barrat  e
       Maurício  Rugendas,  ou  nos  seus  apontamentos  que  diziam:
       “Porto  da  Estrela  seja  a  um  só  tempo,  muito  animado  e
       industrial. Os estrangeiros e principalmente os pintores devem
       visita-lo, mesmo se não estiver no seu caminho. É um lugar de
       reunião de todas as Províncias do interior; aí se encontra gente
       de  todas  as  condições  sociais  e  podem-se  observar  suas
       vestimentas  originais  e  suas  atividades  barulhentas.  Aí  se
       organizam as caravanas que partem para o interior e, somente
       aí, o europeu depara com os verdadeiros costumes do Brasil”.
                                                           Guilherme Peres




                                                                          2
   1   2   3   4   5   6   7