Page 47 - Livro Conto 01
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1º Conto: Laços afetivos                                                     enContro, desenContro e reenContro


               Eu não conseguia de maneira nenhuma ver isso como uma brecha que
          ele dava aos espíritos.

               Hoje eu entendo o que realmente se passava com ele. A sua dor de ver
          todos de minha família lhe acusando, tratando mal. Sem mesmo ele ter recor-
          dação do que se passava com ele.

               “Eu, agora, posso compreender o mecanismo da mediunidade. Como
          também a atitude generosa de meu irmão, Pedrinho, que em nenhum mo-
          mento julgou e/ou condenou as atitudes de Raylândio. Apenas pediu que nós
          orássemos por ele. E que continuássemos lhe ajudando.

               Quando  Raylândio  ficou  abandonado  por  todos  nós,  inclusive,  por
          amigos da família, como sua família morava distante, seus pais já haviam
          desencarnado, ele ficou entregue aos cuidados do meu irmão, de emprega-
          dos de nossa casa, mas o tempo me ensinou que eu estava enganada, que
          meu marido era, sim, um médium em potencial, as suas esquisitices, doidices
          como eram colocadas pelos meus pais, não passavam dos desequilíbrios pro-
          vocados por ele e espíritos perturbadores que acompanhavam-lhe os passos.

               Depois, através de uma minuciosa investigação entre a minha família e
          a família de Raylândio, descobrimos que ele já tinha manifestação mediúnica
          desde criança. Estudando a Doutrina Espírita pude descobrir que os espíritos
          só o dominavam porque ele era um médium deseducado. Não tinha um estu-
          do sério, seqüenciado, voltado para o desenvolvimento de sua mediunidade.

               Nosso diálogo teve uma ressonância imensa no mundo espiritual, e
          particularmente para mim.”
               ― Quero, Raylândio, que saiba que não tivemos um casamento feliz
          ao longo de vinte e seis anos; você se enrijeceu, eu também. Como sabes,
          nosso casamento de dez anos para cá tem sido de aparências, fingimos um lar
          feliz, harmonioso, fingimos uma afeição que não tínhamos, e se temos, esta-
          mos escondendo. ― Continuou, emocionada ― Hoje mesmo li uma página
          do Evangelho segundo o Espiritismo que dizia que quando temos vontade
          firme, quando temos boa vontade e disposição, quando queremos algo e lu-
          tamos pelo que almejamos, teremos. Eu quero abrir, eu estou abrindo o meu


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