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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO




            corda, serenata etc. Esse tipo de conhecimento é responsável por recuperar automaticamente as lacunas
            no texto a seguir:


                •  O violão de Aninha não estava afinado: as cordas estavam enferrujadas.


                Entre o primeiro enunciado (O violão de Aninha não estava afinado) e o segundo (as cordas estavam
            enferrujadas), há uma lacuna em que inserimos automaticamente: um violão tem cordas. Garantimos,
            assim, a coerência entre um e outro.

                Observamos o enunciado a seguir:


                •  Minha casa foi assaltada. Estou pensando em comprar um porquinho-da-índia.


                Fica difícil estabelecer uma relação lógica no texto, uma vez que porquinho-da-índia não inclui
            expectativas que poderiam se relacionar às expectativas acionadas pela primeira sentença. Entenderíamos
            o texto se ele fosse completado por cachorro. Afinal, a sequência de um assalto a nossa casa pode ensejar
            a compra de um cachorro para proteger a casa de futuros assaltos. Não esperamos como sequência a
            um assalto a compra de um porquinho-da-índia, bicho pequenino, um pouco maior que um rato, para
            servir de proteção. Veremos outra situação:


                •  João matou Maria. Amanhã vou visitar João na cadeia.


                Todos conseguem compreender essas duas sentenças como um texto, vendo-as como relacionadas
            e não como duas frases isoladas. Quando encontramos a situação “X matar Y” ativamos imediatamente
            na nossa memória uma série de outros conhecimentos ligados a essa situação:


                •  assassinatos são crimes, proibidos por lei;

                •  as transgressões à lei são passíveis de punição;

                •  uma das formas de punição é colocar o infrator na cadeia.

                Baseados nesses conhecimentos, relacionamos as frases acima, porque a prisão do assassino é uma
            consequência desse tipo de evento. Diante de uma narrativa, sequências de eventos são ativados. Um
            esquema para crime em relação à sucessão de eventos pode ser:


                       x cometer um crime – x ser preso – x ser julgado por y – x ser sentenciado por y
                                       |                          |                          |                               |
                         x ser criminoso     x ser prisioneiro       x ser réu     x ser culpado ou inocente
                                                        y ser juiz

                Com base nesse tipo de conhecimento, inferimos que João está na cadeia porque matou Maria.              Revisão: Leandro - Diagramação: Léo  - 14/07/2011


                Marcuschi (apud DELL’ISOLA, 2001) propõe uma classificação da inferência em três grandes grupos
            para dar conta dos processos seguidos na organização de compreensão, interpretação, paráfrase etc. de
            todo e qualquer tipo de texto.
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