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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
Ao tratar tão somente da ampliação do Portocel, o jornal Século Diário
rompe, logo de início, com a tradição da neutralidade ao levantar questio-
namentos sobre o real benefício que as obras decorrentes da ampliação
trariam à comunidade local. Além de apresentar uma abordagem incisiva
em relação aos problemas enfrentados na Barra do Riacho, nessa aborda-
gem o foco não é compreender apenas a implantação do grande projeto
como um processo de desenvolvimento, mas também todas as relações
decorrentes dessa situação, desde as medidas que antecedem o processo
de licitação até a realização das compensações na comunidade.
Finalmente, o jornalismo cívico, construído de acordo com a demanda
e participação da comunidade local, além de não estar circunscrito nas
tradições da mídia corporativa de neutralidade e objetividade enquanto
disfarces para um discurso hegemônico e dominador, funciona para hu-
manizar as relações presentes no processo midiático. Ao tratar pessoas,
comunidades e ambiente de forma tão superficial, grandes veículos de
comunicação contribuem para uma maior instabilidade social.
CONCLUSãO
Bittencourt (2012) escreve: “Quem detém os aparatos comunicativos
detém o poder ideológico sobre a esfera social”. Essa afirmação sumariza
perfeitamente a análise proposta neste artigo. Se há um processo de ex-
pansão de um dos já maiores portos de exportação do Brasil em uma área
em que potenciais danos ambientais serão causados e refletirão de forma
impactante na comunidade local e se esse processo ocorre de forma natu-
ral e bem aceita pela sociedade capixaba é muito por conta de sua mídia
corporativista.
Obviamente, a construção de um processo jornalístico que exclui a comu-
nidade do diálogo e enaltece as ações de grandes projetos de desenvolvi-
mento é extremamente danosa para as populações que irão conviver com
tais empreendimentos nas suas vidas cotidianas. A ação, novamente, im-
perativa dos grandes veículos de mídia não apenas fornece uma sustenta-
ção para grandes projetos serem instalados, mas também exclui possibili-
dades menos paradigmáticas de debate com a comunidade local. No caso
da Barra do Riacho e da expansão do Portocel, torna-se evidente uma dis-
crepância entre o discurso de prosperidade econômica apresentada pelos
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