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Capítulo 4

                    vando a ligação corporativista entre a mídia e grandes empresas, visto que
                    ambas possuem interesses em manter a hegemonia do empresariado so-
                    bre a sociedade, indo além como uma ferramenta de controle da informa-
                    ção, como um mecanismo de reprodução de uma ideologia dominante.
                           Qualquer  uso  dos  dispositivos  midiáticos  pressupõe,  portanto,
                           manipulação, pois os procedimentos mais elementares da produ-
                           ção comunicativa, desde a escolha do suporte midiático, passan-
                           do pela gravação, pelo processo de corte, de mixagem e mesmo os
                           pontos estratégicos de distribuição pública, são intervenções par-
                           ticulares nos materiais disponíveis (BITTENCOURT, 2012, p. 39).
                    A utilização seletiva de técnicas jornalísticas para reprodução ideológica
                    se relaciona com a maneira subjetiva que Bourdieu (1997) aponta como
                    a impossibilidade prática de um jornalismo neutro. Ele salienta a ação
                    imperativa da mídia no controle informacional sobre a sociedade, sen-
                    do, dessa forma, identificáveis, na estruturação do jornal e das notícias,
                    os mecanismos que agem para a situação de reprodução ideológica. Bi-
                    ttencourt (2012) postula que a objetividade é usada como mecanismo de
                    reprodução ideológica ao selecionar fatos arbitrariamente enquanto con-
                    tinua a propor as bases da mídia juntamente com a neutralidade.

                           A notícia midiática nada mais é que uma construção “intelectual”
                           como qualquer outra, de uma sucessão de escolhas ideológicas,
                           arbitrárias e afetivas, de um conteúdo de editoriais mascarados
                           muitas vezes pela postulada objetividade jornalística (BITTEN-
                           COURT, 2012, p. 35).

                    Por exemplo, na análise proposta, a ausência de matérias próprias do ca-
                    derno de meio ambiente demonstra a operação realizada para produzir o
                    sentido sobre a sociedade de que um grande projeto de desenvolvimento
                    não se relaciona com a situação ambiental. Além disso, a insistência na
                    justificativa socioeconômica para a implantação do Portocel II tem por
                    função reforçar o ideal do desenvolvimento necessário para o crescimen-
                    to da região e do estado, invocando um sentido que reforça o paradigma
                    desenvolvimentista de maneira que a sociedade o assimile sem percebê
                    -lo, ocultando fatos que possam produzir sentidos diferentes dos conside-
                    rados pela produção jornalística.




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