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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
que terá aumento da área de fundeio
[Ata da Consulta Pública do Termo de Referência da Expansão
da Portocel II ocorrida em 8 de dezembro de 2016 em Barra do
Riacho, Aracruz/ES (IEMA, 2016, p. 9)].
Antes de me aprofundar na relação entra a mídia e o projeto de expansão do
Portocel, é importante a compreensão da situação socioeconômica da Barra
do Riacho, assim como a ocorrência dos conflitos ligados ao ambiente.
A comunidade local da Barra do Riacho atualmente vive circundada por
um complexo de várias empresas (gigantes multinacionais como a alemã
Evonik e a norte-americana Canexus). No começo de 2016, a comunida-
de foi atingida pelos resíduos da lama da barragem rompida em Mariana
(MG), um desastre premeditado causado em grande parte por irrespon-
sabilidade do tríplice empresarial Samarco/Vale/BHP. Esse desastre foi
amplamente coberto pela mídia brasileira e, por se tratar de um impacto
ambiental gigantesco, teve abordagens múltiplas. De certa forma, o meio
ambiente chegou a entrar em pauta nos jornais, sendo discutido o enorme
impacto nas cidades da redondeza, a falta de preparo das empresas para
lidar com situações como essa e os danos diversos nas comunidades de-
pendentes do Rio Doce. Entretanto, após esse movimento inicial, a discus-
são proposta pelos grandes veículos de comunicação logo partiu para o
prejuízo financeiro causado pelo evento e para o processo de retomada do
funcionamento da Samarco, que ainda corre na Justiça. Ainda que na co-
munidade seja questionada a presença da lama no rio que margeia a cida-
de e no mar à frente, a pesca (principal atividade econômica da população
local) permanece proibida, o índice de desemprego disparou e indicadores
de vulnerabilidade social, que já se faziam presentes na região, também
aumentaram, como o uso abusivo de álcool e drogas, abandono de meno-
res e prostituição. Como se não bastasse, o espaço da Barra continua sendo
degradado diariamente pelas empresas da região e o poder público é au-
sente. Na verdade, a situação da Barra do Riacho representa uma série de
disputas simbólicas e literais promovidas pela diversidade de grupos exó-
genos e locais por todo um conjunto de espaço, tradição, história, recursos
naturais vastos e empreendimento. Sendo notável, também, a multiplici-
dade de atores relacionados ao meio ambiente, grandes projetos de desen-
volvimento e a consequente disputa para conciliar essas duas esferas.
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