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Vidas de Rio e de Mar: Pesca, Desenvolvimentismo e Ambientalização
econômico e político de primeiro nível na sociedade capitalista,
e todas as organizações corporativas necessariamente se utilizam
dos seus mecanismos em prol da participação hegemônica na
formação da opinião pública (BITTENCOURT, 2012, p. 34).
Dessa forma são tratadas as questões ambientais nos jornais que circu-
lam facilmente na sociedade. A prática de não tratar o meio ambiente de
modo autônomo fomenta a ação ostensiva da mídia jornalística ao co-
nectar a temática ambiental principalmente à ordem econômica, o que
Bueno (2007) sumariza ao enunciar a transposição da pauta ambiental
para outros cadernos jornalísticos:
A redução da cobertura ambiental a um olhar (econômico, cientí-
fico, político, etc.) tem sido um terreno fértil para leituras particu-
lares e negativamente comprometidas sobre a questão ambiental
e inclusive para a legitimação de conceitos absolutamente inade-
quados. Por este motivo, é fácil encontrar nos cadernos de econo-
mia expressões como defensivos agrícolas no lugar de agrotóxi-
cos (BUENO, 2007, p. 37).
A avaliação de conflitos ambientais como eventos naturais inevitáveis
(por vezes, colaterais) do próprio processo de desenvolvimento causa a
impressão de que a relação conflitiva é controlada e resolvida por esse
mesmo processo sem alterações drásticas nos contextos sociais e ambien-
tais anteriores. Esse tipo de entendimento gera um efeito perverso pois
legitima o desenvolvimento econômico sem problematizar seus efeitos
negativos, além de reforçar um entendimento disjuntivo acerca da rela-
ção natureza e sociedade. Enrique Leff (2003), apesar de não tratar dire-
tamente da arena midiática em sua crítica ao paradigma desenvolvimen-
tista, aponta como a racionalidade vigente na sociedade se orienta pelo
paradigma do desenvolvimento:
[...] No entanto, a racionalidade científica do iluminismo construiu
um projeto ideológico que pretendia emancipar o homem das leis
-limite da natureza. Dessa maneira, a razão cartesiana e a física
newtoniana modelaram uma racionalidade econômica baseada
em um modelo mecanicista, ignorando as condições ecológicas
que impõem limites e potenciais à produção (LEFF, 2003, p. 224).
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