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Capítulo 4
Na tabela estão presentes as manchetes e as datas das notícias analisadas.
Várias dessas publicações tratavam diretamente da expansão do Porto-
cel, referenciado como Porto da Barra do Riacho, justamente para trazer
o perfil da empresa próximo à comunidade. Elas tratavam, também, das
verbas e esforços empreendidos pela iniciativa privada para a construção
de uma obra tão grande, assim como os benefícios à economia do esta-
do e da região e os inúmeros empregos que serão criados com a expan-
são. Inclusive, em mais de uma matéria se fala da iniciativa da CODESA
(Companhia de Docas do Espírito Santo) em manter uma parceria com a
Fibria/Portocel para futuramente transformar a região em um complexo
portuário sem igual. A proximidade das temáticas centrais das matérias
não são mera coincidência, como é possível notar na tabela em que mais
de uma notícia trata do investimento realizado para expansão do porto.
Além disso, todas as matérias que tratam essencialmente do Portocel
II fazem parte do caderno de economia, e ainda foram publicados dois
especiais intitulados “estado de valor”, que anunciam grandes projetos
de desenvolvimento no estado e as consequências positivas das instala-
ções. Nesses especiais, são discutidos exclusivamente sob a perspectiva
econômica temas relevantes no contexto ambiental, como o abastecimen-
to de água à população e a possibilidade de novas formas de produção de
energia elétrica. Dessa forma, o jornalismo corporativista trata de criar
uma agenda de notícias que reforça a impressão de que o processo de
desenvolvimento é constante e gradual, além de acalentar a perspectiva
de melhoras socioeconômicas na região, sem sequer apontar um contra-
ponto a respeito dos impactos socioambientais decorrentes desse projeto.
Isso faz valer ambas as observações propostas por Bueno (2007) a respeito
da separação da temática ambiental em diversas áreas e da anexação de
temas secundários, impossibilitando a ampla discussão do impacto real
ao meio ambiente e comunidade. Nesse caso, isso ocorre de forma ainda
mais contundente, pois nenhuma matéria, nem mesmo a que trata da in-
clusão da Barra do Riacho entre as comunidades atingidas pela lama da
barragem de Mariana (MG), aparece no caderno de Meio Ambiente.
O conceito de “manufaturação de notícias” proposto por Hannigan (2009)
é imperativo nessa situação, uma vez que, nas matérias, em nenhum mo-
mento são mencionadas as preocupações apontadas na consulta pública
realizada pelo IEMA, como o apagamento de uma faixa da praia, a cons-
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