Page 11 - 7ª Edição - Jornal Notícias da Gandaia
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Gastronomia
|Luísa Costa Gomes
Tive o privilégio de viver em uto pia uma semana inteira. Passouse isto em Cuba, ao Varadero, num resort de cinco estrelas: um local inteiramente dedicado ao culto do prazer implacável, à felicidade da animação perpétua, ao jogo, ao humor, à música, à dança, ao es pectáculo folclórico e colorido. A mesa está sempre posta, happy hour é quando um homem quiser (e quer, e logo de manhã cedo), o drinque é até cair para o lado, andase cem passos e estáse den tro de água quente. Na praia há salsa e ginástica. Há gaivotas, há pranchas de windsurf, toda a para fernália necessária ao activista ma rinho. À noite, espectáculos para turistas e karaoke, característica específica deste género de pa raíso, onde todos são estrelas do rock.
Tudo está disposto para o narci sismo do turista, para o ilusório apaparicanço do turista. Se é bo
nito? Nem por isso. Parece uma prisão de alta segurança dese nhada por um artista meio parolo com a mania das grandezas. O spa é um jaccuzzi com máquinas de tortura musculoesquelética, de serto a todas as horas do dia e com boa vista de mar.
Não passa um minuto em que não se coma, não se beba, não se namore, não se ginastique, não se baile, não se excite a pessoa de qualquer maneira com alguma coisa. É o reino do volume e da quantidade. O som está sempre alto, as famílias estão sempre numerosas e com aderências – pa rentes distantes, amigos che gados. É tudo enorme, a tocar no máximo.
Chegamse primeiro ao bufete os gigantes americanos, os ale mães, os obesos latinoamerica nos para o primeiro refocilamento. O bufete do resort é um regalo para os olhos e só para os olhos: parece que foi todo passado ao verniz e feito para ser visto. No pa lato, sabe tudo ao mesmo corante e ao mesmo conservante. À en trada servemse os primeiros drin ques do dia. Começase a beber às oito da manhã e já se vai tarde. No bar, os banhistas avançam os ter
mos de litro ao cubano que os re cebe com salero. Vão para a praia bem aviados. Não nos precipite mos a julgar: comer ao bufete é a única actividade por assim dizer deliberada e mediocremente sau dável do nosso dia. Implica um le vantar e sentar constantes que seriam penosos se fossem vendi dos como aeróbica, mas como bu fete marcham muito bem. No bufete ninguém come descan sado. A quantidade esperanos. Há uma agitação permanente na sala, um vaivém de pratos, crianças transviadas, bebés aos gritos, e gente de cara enfiada em montes de alimentos. Passam as primeiras pratadas de ovos mexidos salsi chas e chouriças e pão/paio/fei joada com um tomate assado aguado meio delinquido a gritar eu é que sou saudável eu é que sou saudável. Está bem, já te ouvi mos. Mas é que comer do bufete cria angústia. Nunca seremos ca pazes de meter cá dentro tudo aquilo a que temos direito. Que está pago. Por isso é o reino natu ral dos gigantes que estão habi tuados a tais desafios: cinquenta hambúrgueres, cento e cinquenta cachorros quentes com molho de malagueta de fazer explodir o sis
tema nervoso central. Queremos tudo, até rebentar. Sinto eu mesma este formigueiro de ter di reito. Tenho direito! Estou no meu direito! Olhando mais de perto, é esta mesma angústia do mais e mais que está na base do nosso ca pitalismo predatório. A saciedade é para os tolos. O verdadeiro bufe tista nunca está satisfeito. Olha de viés para quem passa com prata das enquanto ele próprio calcula a próxima investida. O que haverá ali ao canto, naquela fila? Ainda não comi, ainda não experimentei. O cubano negro com o seu chapéu de cozinheiro às três pancadas por via do calor atira o bife de rês para a grelha. E outro, e outro.
Para ele é igual ao litro. O seu desprezo não tem fundo. Mas para quem já pagou, o regime de tudo incluído é um tormento. Como não comer e não beber se já está pago? Há sempre mais, é pre ciso sempre mais. A abundância cria o desespero da quantidade absoluta. Já temos muito, mas ainda não temos tudo. E voltamos lá, uma e outra vez, prisioneiros da nossa sofreguidão, do nosso de sejo que nenhum arroz de feijão, nenhuma pizza margarida pode rão alguma vez apaziguar. |
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Notícias da Gandaia MAIO 2019 | CRÓNICA 11 SOFREGUIDÃO DO BUFETE
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