Page 111 - REVISTA MULHERES EDIÇÃO 21
P. 111

A CULTURA


               do medo

































                              Qual o preço da pandemia?




                                                             ILCEA BORBA MARQUEZ
                                                             Psicóloga e psicanalista, Mestre em psicologia, ex-presidente da BPW
                                                             Uberaba - Associação de Mulheres de Negócios e Profissionais de Ubera-
                                                             ba e ex-presidente da ALTM -  Academia de Letras do Triângulo Mineiro

                        ertamente não erramos ao dizer que o homem é o   meses de regime ditatorial, sob forte pressão política que nos
                        ser do medo. Temos medo de tudo: do céu e do in-  faz procurar Onde está o dinheiro? Somente ganhos estratos-
                        ferno; da glória e da derrota; da encruzilhada e da   féricos explicam tamanha interferência do estado na vida de
              Cdireção; do eterno retorno e do fim; da verdade e    cada pessoa, jogando no lixo os direitos dos cidadãos.
               da mentira; da morte e da vida; da cólera de Deus e da manha   Muitos sucumbiram e tiraram sua própria vida, outros se
               do diabo; da repressão e da subversão; do grito e do silêncio;   destruíram pelo abuso do álcool ou da comida, outros adoece-
               do vazio e do infinito; do para sempre e do nunca mais; da   ram pela apatia e tristeza de não desejarem mais nada, outros se
               traição e da tortura; do esquecimento e de jamais poder des-  acomodaram no ócio, pediram demissão no serviço, saindo do
               lembrar; enfim nossa lista pode tornar-se infindável. Se temos   sistema produtivo para inaugurar outra classe – a nova pobreza.
               certeza de que o homem está afeto sobremaneira ao medo, esta   Se a tirania é o fruto amargo do medo, o sistema do medo
               experiência de 2020 – A Pandemia Covid 19 – ensejou crise   desencadeia outras paixões tristes: a ambição de uns exige a
               de medo onde todos foram contaminados porque o “gover-  humildade de outros; o orgulho e a soberba de uns força a au-
               no e seus mandarins - organizações de saúde, profissionais de   tocomiseração e a inveja de outros; a crueldade de uns incita
               saúde, sistema de comunicação real e virtual, em verdadeira   a abjeção de outros.
               parceria de “lavagem cerebral” espalharam o vírus por todos   É fácil perceber que estamos diante de uma luta entre duas
               os lados que não demorou mostrar sua cara – o Pânico to-  paixões – procura de morte e desejo de vida. Se não podemos
               mou o controle de tudo. Desde então temos vivido na exceção   prever qual vencerá, sabemos que o derrotado será o mais fra-
               social onde a liberdade individual no seu patamar originário   co e também que o caminho é árduo. “Mas tudo quanto é belo
               do “direito de ir e vir” foi abolido representando a mais ousa-  é tão difícil quanto raro” (Marilena Chaui).  Confiamos no po-
               da e perniciosa agressão já vivida num regime democrático.   der da rebelião para prever um desfecho favorável ao amargor
               Em nome da Vida as palavras de ordem foram: fique em casa,   apático destes tempos. O homem também é um rebelde e já
               mantenham distanciamento social, usem máscaras... Foram 10   demostrou isso várias vezes ao longo da história.



                                                                                                        Mulheres Ed. 21 - 111
   106   107   108   109   110   111   112   113   114   115   116