Page 29 - DEUS É SOBERANO - A. W. Pink
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           eu  vou,  desce  outro  antes  de  mim.  Então  lhe  disse  Jesus:
           Levanta-te, toma o teu leito e anda. Imediatamente o homem
           se viu curado e, tomando o leito, pôs-se a andar” (Jo 5.1-9).
           Por  que  aquele homem  foi  escolhido,  no meio  de  todos  os
           demais? Não é dito que ele clamara: “Senhor, tem misericórdia
           de mim”. Não há uma palavra, na narrativa sagrada, que dê a
           entender que aquele homem era dotado de qualificações que
           o tornassem digno de receber algum favor especial.  Temos
           aqui, por conseguinte, um exemplo do soberano exercício da
           misericórdia divina, pois teria sido tão fácil para Cristo curar
           toda aquela multidão de enfermos,  tal como fez com aquele
           homem.  No entanto,  Cristo não agiu assim.  Estendeu o seu
           poder e aliviou a miséria unicamente daquele sofredor e, por
           alguma razão que só Ele conhecia, deixou de fazer o mesmo
           em favor dos outros doentes.
                  Deus  é  soberano  no  exercício  da  sua  graça.  É
           necessariamente assim porque a graça é dada aos que não a
           merecem; sim, para os que merecem o inferno.  A graça é a
           antítese da justiça.  A justiça demanda que a lei seja aplicada
           de maneira imparcial.  A justiça exige que cada um receba o
           que merece legitimamente, nem mais, nem menos. A justiça
           não oferece favores e não escolhe pessoas. A justiça não mostra
          piedade e desconhece a misericórdia. A graça divina não opera
           em detrimento da justiça, mas a graça reina pela justiça (Rm
           5.21);  e  é  evidente  que  se  a  graça  “reina",  então  ela  é
           soberana.
                  Tem-se  definido  a  graça  como  o  favor  divino
          não-merecido.2  Ora,  se  ela  não  é  merecida,  ninguém pode
          reivindicá-la como um direito inalienável.  Se a graça não se
          ganha nem se merece,  então ninguém tem direito a ela.  Se a
          graça  é  uma  dádiva,  ninguém  pode  exigi-la.  Visto  que  a
          salvação é pela graça, pelo dom gratuito de Deus, então Ele
          a concede a quem quiser.  Visto que a salvação é pela graça,
          nem mesmo o principal dos pecadores está fora do alcance da
          misericórdia  divina.  Por  ser  a  salvação  pela  graça,  fica
          excluído o orgulho,  e Deus recebe toda a glória.
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