Page 26 - Revista escriba (primeira ediçao)
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Maio em dois atos
I
cravou as unhas bem forte,
como quem espreme uma pústula.
depois foi arrancando os gomos,
sem pressa nem prece nem prumo.
o sangue escorreu pela garganta,
tinha o gosto bom de coisa doce, vermelha.
entre os molares (não tinha sisos),
triturou cada gomo, rasgando.
(caninos)
II
saliva vermelha, abundante,
escarrada no chão.
na calçada o desenho
de um coração.
Fábio Amaro
Maio/MMXVII