Page 29 - Revista FRONTAL - Edição 50
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        suas queixas e preocupações e que estamos   Com esta mudança de óptica do doente, o   tigo pedestal, ou tornar a ação médica nalgo
        ali, diante dele, prontos para o ajudar.  estatuto mais elevado que o médico carregou   ineficiente. É nesta que o médico carrega o
           A Medicina mudou e assim mudaram os   desde a conceção da relação médico-doente   legado da profissão, e o peso da razão de pra-
        doentes. Agora com o uso da tecnologia, têm   tem sido desconstruída, muito para bem do   ticar a arte – o doente.
        acesso a grande quantidade de informação,   doente e do médico.           “Não podemos permitir que a relação
        nem sempre sinónimo de mais conhecimento,   Tudo isto são obstáculos à relação médi-  médico/doente se torne um desencontro
        mas que inevitavelmente determina e molda   co-doente, cuja alteração não é automática   mediado por tecnologias, sem qualquer
        expectativas. Como Pedro Pita Barros, Pro-  nem imediata. É sim algo que precisa de ser   humanismo. Não podemos aceitar que,
        fessor Catedrático da NOVA School of Bu-  construído, que exige tempo e dedicação, que   para se obter a máxima eficiência esta-
        siness and Economics da Universidade Nova   exige saber ouvir e falar com o doente, apesar   tística, se sacrifique o tempo necessário
        de  Lisboa,  referiu,  hoje em  dia  “o  cidadão   do tempo escasso imposto às atividades de-  para a construção de uma relação de con-
        exige acesso a todas as tecnologias e que   senvolvidas pelo médico.    fiança entre duas pessoas. Uma medicina
        o médico, a Medicina, lhe resolva todos os   Assim, a relação médico doente é um pa-  personalizada não se traduz apenas no
        problemas. E quando essas expectativas não   radoxo entre um ideal e a realidade, entre o an-  medicamento feito à medida. Uma medi-
        são cumpridas, recorre muitas vezes à dispu-  tigo e o moderno. É uma relação que significa   cina personalizada tem que ser centrada
        ta jurídica (..) é o desejo de sair do gabinete   a dependência de uma das partes na outra, e   na pessoa e ter espaço para a empatia e a
        do médico com algo mais do que recomenda-  que implica o mantimento da igualdade entre   compaixão”. – Miguel Guimarães, bastonário
        ções de descanso e deixar o tempo resolver”.   os dois, com risco de colocar o médico no an-  da Ordem dos Médicos.























































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