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ENTREVISTA A: PROF. NUNO GARCIA
Revista PROGRAMAR Na UBI dediquei-me
(RP): Fale-nos um pouco a fundar um grupo de
de si e do seu percurso na investigação em Ambient
Assisted Living (AAL), o
tecnologia. Assisted Living Computing
Nuno Garcia (NG): O and Telecommunications
primeiro computador em que Laboratory (ALLab), que é
mexi (e foi mesmo só mexer, um simples grupo de
porque a disquete com o pessoas que se junta numa
Sistema operativo CP/M só sala e que investiga temas
apareceu na semana relacionados com AAL e
seguinte) era português, o com biosinais. Na UBI
ENER 1000. Baseado no fundei também a Academia
microprocessador Intel 8088, CISCO, que ainda
tinha uma consola com coordeno, e o BSAFE Lab,
teclado e ecrã e um botão de um grupo multidisciplinar
reset tão saliente e sensível que se dedica a investigar
que às vezes alguém temas relacionados com a
passava e desligava-o. Isto segurança pública, Lei e
foi no então Instituto justiça, e através do qual
Universitário da Beira temos vários projectos com
Interior, em 1983. Nesse parceiros internacionais. Em
Natal ganhei um Texas 2013 ganhei um projecto
Instruments TI-99/4A, uma máquina fabulosa que rivalizava COST (Cooperation in
(para melhor, claro), com os Spectrums dos meus amigos. A Science and Technology), financiado por verbas da European
partir daí não parei, até porque descobri que tinha jeito para Science Foundation, e esta equipa tinha investigadores e
a programação. Nessa altura aprendíamos BASIC (com um indústria de 34 países, europeus e não só.
colega fizemos um processador de texto para o IBM Hoje em dia olho para o futuro com muita curiosidade
System/34 do IUBI, e com o GWBASIC fizemos um e acho que as tecnologias de Inteligência Artificial podem
processador de texto para um micro da Olivetti, e aquilo era revolucionar a forma como a tecnologia interage com o nosso
muito entusiasmante, porque estávamos a fazer coisas que mundo. Não vou ao ponto da quase paranoia do Musk, mas
as pessoas precisavam e usavam e não existiam. Deve ter tenho algumas cautelas. Numa altura em que nos nossos
sido mais ou menos nessa altura que comprei, a meias com bolsos temos terminais que têm mais poder computacional do
esse colega, a minha primeira disquete de 5” ¼, e que ficava que o velhinho e pesadíssimo IBM System/34, que na UBI
comigo semana-sim, semana-não. Depois passei pelo tinha uns espantosos 20 MB de disco rígido, só podemos
FORTRAN (IV e 77), Turbo Pascal, C, C++, Java, MatLab, estar muito curiosos e contentes com o desenvolvimento que
Python e outras que aprendi e felizmente já me esqueci. a tecnologia teve.
Com Turbo Pascal aprendi muito e mais ou menos nessa
altura, fiz a minha primeira empresa, que trabalhou de 1989 RP: Estando intimamente ligado ao ensino, como sente a
até 2004. Era uma software house e alguns dos programas evolução do ensino da tecnologia no decorrer das várias
que fiz na altura ainda trabalham hoje. Em 2004 mudei-me gerações com as quais lidou até à data?
para a Siemens (Alfragide), com uma bolsa de investigação
para fazer doutoramento na área das redes ópticas, e sem NG: Por volta de 1988 soube que a minha antiga escola
dúvida nenhuma posso dizer que no mundo inteiro, quiça até secundária estava à procura de um professor de informática,
em Portugal sou dos cientistas mais habilitados a falar sobre e fui lá saber como era. Acabei por ficar lá a dar aulas até
Comutação Óptica de Agregados de Pacotes em IPv4 e meados de 1994 (salvo erro). No princípio, as minhas aulas
IPv6 ... Esta foi uma área à qual dediquei muitos anos de eram turmas de 25 alunos e um computador Amstrad 1512.
investigação, mas que depois nunca teve sucesso do ponto Fazíamos os programas em Basic no quadro, e se desse
de vista empresarial. No entanto, algumas das coisas que tempo, depois no Amstrad. Os miúdos eram excepcionais e
inventei (e que foram patenteadas) com colegas na Siemens adoravam aquilo, muitos deles seguiram a informática e até
(depois Siemens Communications e mais tarde Nokia terminaram o doutoramento antes de mim. Eram tempos
Siemens), ainda têm aplicação e utilidade, embora noutras épicos, um computador era caríssimo e as escolas não
áreas. Uma dessas áreas levou-me a mudar de ramo e em tinham (continuam a não ter) recursos suficientes (e não
2008 mudei para a PLUX, uma empresa que tinha sede no falemos aqui do potencial desperdiçado que é consequência
ParkUrbis, na Covilhã, e que se dedica a fazer equipamentos de décadas de políticas educativas erradas).
e soluções de recolha e processamento de biosinais (ECG,
EEG, entre outros). Só em 2012 me mudei para a UBI, Por volta de 1991 (talvez) vi pela primeira vez um
depois de ter ganho um concurso internacional para acesso à Internet, na Universidade da Beira Interior. Era
Professor Auxiliar. Pelo meio ficaram passagens muito boas outra coisa completamente diferente, e note-se que na minha
pela Universidade Autónoma de Lisboa e pela Universidade empresa nós já subscrevíamos uma BBS americana que era
Lusófona de Humanidades e Tecnologias, sendo que ainda a Compuserve. Tínhamos também feito uma experiência com
colaboro com esta última de forma regular. a francesa Minitel, mas o facto de aquilo exigir um terminal
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