Page 29 - Quando chegar a primavera
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                              Manoel  Trigueiro  tinha  a  detestável  intromissão  e  longeva

                      impessoalidade  em  situações  diversas,  das  mais  formais  às


                      corriqueiras.  Causando  suspense  e,  incentivando  galgar  desequilíbrio


                      de  Alexandre,  manteve  por  segundos,  extensos  sussurros,  que  mais


                      lembravam agonizante orgia. A situação estava mantida. Obtenção de


                      sucesso  com  o  desconserto  de  Alexandre,  que  se  encontrava


                      envergonhado, como se todos ao redor estivessem presenciando em

                      viva  voz,  a  detestável  obsessão.  Então,  mais  uma  vez,  disse:   Manoel,


                      seja rápido. Não quero perder meu tempo com brincadeiras. Te dou cinco


                      segundos. Falando ou não, desligarei o celular até o horário de entrada no


                      escritório. Então, ou fala ou vai ter que me esperar até amanhã.




                              Trigueiro  notou  perder  espaço  e  retrocedeu,  passos  tímidos.  No


                      intervalo  pré-estabelecido,  ponderou  inventar  assunto  de  interesse


                      irrevogável  a  Almuz,  uma  espécie  de  atrativo  em  interesse  de  gosto


                      incomum a si mesmo, já que culturas clássicas não tinham significado


                      algum  para  a  rudeza  de  sentimentos  que  nutria.  A  um  só  golpe,


                      mentalizou-se frágil, carente de auxílio imediato. Dizia, entre satisfeito e

                      mentiroso:  Alexandre,  preciso  comprar  um  presente  'catiguria'  para  um


                      brother  de  fina  origem.  Ele  é  assim,  meio  sensível  como  você  -  ironizava


                      sorrateiro. A disposição de ajudar quebrou a rispidez e deselegância de


                      Trigueiro. Mal sabia que acabara de mordiscar o anzol. Estava feito. A


                      primeira barreira conseguia quebrar.




                            _ Você  se  importaria  em  falar  de  quem  se  trata?  -  disse,  em  escuta


                      sincera.





                              Trigueiro  já  havia  planejado  tudo,  declarando:  É  para  Thomas


                      Camargo, filho de ...- fingindo esquecimento. Alexandre, completa: Filho

                      de Dina Camargo, sei de quem se trata.  Segunda isca, completamente


                      satisfeito.  Continuou:  _  ...sim  é  o  Thomas.  Ele  é  exigente.  Casca  grossa


                      como eu, não sei o que fazer. Espremia-se, contorcendo-se em abafadas


                      galhofas.  De  repente,  mutismo.    Alexandre  notava  o  jogo,  e,  sem


                      pestanejar,  redarguiu:  Por  quê  você  consulta  diretamente  a  mim?

                      Trigueiro, aponta para o céu, como se afirmasse vitória em terceira isca.


                      Sabia do envolvimento entre os dois, anos antes. Disso e do sofrimento


                      que  Thomas  Camargo  tivera  que  ultrapassar,  acusando  abandono  e


                      desprezo afetivo.
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