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Jornal da Academia, Ano XXX, No1 – julho-agosto de 2011
Por fim, ao terminar seu conto, faça uma boa revisão e dê título não deve sugerir o conteúdo do conto. Os títulos
para alguém ler, alguém que seja honesto, de sua curtos são sempre melhores e instigantes. Elimine
confiança e que saiba criticar. Seguem algumas outras explicações e descrições que não tenham importância
pequenas dicas importantes: Evite o uso de repetições para a história, cortar parágrafos é dar movimento mais
fazendo uso de sinônimos. O conto não deve cansar o dinâmico ao conto. Deixe de lado os verbos de ligação e os
leitor e superestimar (nem subestimar) sua inteligência. pronomes reflexivos, com eles, a leitura se torna
Podemos enganar usando um raciocínio lógico falso que o cansativa. Também evite o uso demasiado de conjunções
induza a pensar de uma forma, mas nunca dizer o óbvio. O aditivas.
A VISITA DO BISPO
Em 1974 quando morava em Itaituba, no sul do Pará e passando essa incumbência... muito a contra-gosto, é
ocupava o cargo de administrador da F.A.G. – Fundação claro! Ironizou.
de Assistência ao Garimpeiro – coordenada pelo
Ministério do Trabalho, em razão da grande - Só isso capitão? Não tem problema, disse sem dar muita
movimentação de garimpeiros pelas “corrutelas” (vilas) importância ao fato. Quem é que vem dessa vez? Algum
dos garimpos – no auge da produtividade dos barrancos figurão de Brasília ou o General (fazendo alusão aos vários
(locais de onde se extraiam o ouro aluvionar) – a presença políticos que apareciam de vez em quando e ao
maciça de prostitutas nessas vilas acabava por acirrar presidente da Fundação) que, de vez em quando dizia
ânimos e eram comuns as brigas e tiroteios em toda a estar vindo a Itaituba mas que raramente aparecia.
região, com mortes freqüentes, por qualquer motivo - O bispo da prelazia de Santarém, soltou, de forma suave,
torpe. A presença dos homens na floresta por longo como que se recusando a acreditar em suas próprias
período acabava por embrutecê-los e como andavam palavras.
constantemente armados, os crimes sucediam-se em
proporções alarmantes. Fui chamado à presença do - O quê, capitão? O senhor está brincando! O Bispo? Ele
capitão Heliot – coordenador da Fundação e que no enlouqueceu? O que é que ele vem fazer aqui em Itaituba
momento, apresentava traços de visível preocupação, e o que é que temos com isso? Certamente vem visitar a
olhando de pé, pela janela, a chuva que se formava ao paróquia e os padres que cuidem dele, soltei, meio
longe, naquela quinta-feira. atônito.
- Sérgio, disse-me: Temos um probleminha pela frente - - Não Sérgio, ele chega amanhã, sexta-feira, reza uma
voltou-se e assentou em sua cadeira, apontando-me uma. missa na igreja daqui e sábado quer conhecer duas
Mais um só (pensei com meus botões) e quando corrutelas dos garimpos. Me ligou dizendo-se preocupado
deixaríamos de tê-los (os problemas) em Itaituba? O com a quantidade de mortes que vem ocorrendo nos
capitão era muito formal em suas colocações mas sempre garimpos e ele quer ver em que é que a Igreja pode ajudar
amenizava ao máximo suas opiniões, talvez para nos para reduzir essa mortandade.
poupar um pouco, em razão dos inúmeros problemas de
nosso dia-a-dia. - Diga a ele capitão para mandar construir uma igreja em
cada corrutela e enviar um padre e uns cinco seguranças
E, usando sua expressão favorita disse: armados de metralhadoras para ajudá-lo a levar os
garimpeiros para a igreja e manter a lei e a ordem, disse-
- É caboclo! A coisa “ta” cada vez mais difícil. Temos mais lhe irônico. É a maneira mais fácil de acabar com a
uma novidadezinha e confesso, não tenho a menor idéia matança. Ah! E diga pra ele que vai arrumar “um monte”
de como vamos conseguir contornar essa encrenca que de “filhas de Maria” nas boates, ironizei. Quem sabe,
vem aí. assim, as mortes diminuem.
- Em que posso ajudá-lo capitão? Perguntei, sem me - Só me faltava essa! Continuei. Um Bispo no garimpo. Só
preocupar com o que seria, já que nada mais me me faltava essa! – repeti, resmungando, assentando
surpreendia. novamente.
- “Ta” vindo aí amanhã, um visitante para conhecer a - Chefe, diga que você está brincando comigo, diga! Isso é
cidade e gostaria que você o recebesse e fizesse “ a honra brincadeira, não é?
da casa” – já que terei que viajar a Brasília e estou lhe
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