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disponíveis no Brasil Colônia. Com isso,
se forjaram padrões que perpetuam na
atualidade, expressos, por exemplo, na
absurda frase: “o lugar da mulher bran-
ca é no altar, da negra na cozinha e da
mulata, na cama”. O resultado é que
essa masculinidade tóxica, geradora de
violência, se perpetuou de modo aos
homens não conseguirem aceitar, até
hoje, que as mulheres sejam emanci-
padas e independentes. De acordo com
Flávio, apenas a educação poderia con-
tribuir para mudar os altos índices de
violência contra a mulher no Brasil. “É
necessário dar voz a essa sensibilidade
dos homens, dar voz à masculinidade
reprimida dos homens, ensinando o
pai a conversar com seu filho, para que
tenham mais intimidade e aproxima-
ção. Eu mesmo nunca tive isso. Meu pai
não chegava e dizia, por exemplo ‘Filho,
como estão as coisas na escola?” O pa-
drão masculino autoritário tem gerado
muitas violências físicas e psicológicas
Pedro e a esposa Gabriela principalmente para as mulheres, mas
também para os homens, que sofrem
em silêncio”, diz.
chora”, por exemplo, estaria levando ao de sadia, o homem precisa redescobrir
adoecimento, às doenças da violência no feminino um caminho de vida, que Flávio finaliza essa entrevista
que o homem se impõe, calando em si pode se dar na descoberta da cidada- com uma frase, que precisamos aceitar
os sentimentos e provocando depres- nia, na luta por direitos e contra toda como um mantra: “É necessário dar o
são, dependência química, angústia e forma de violência, uma masculinidade primeiro passo rumo a uma longa ca-
infelicidade. “Estamos adoecidos por afirmada na suavidade, na capacidade minhada de relacionamentos saudáveis
viver vidas longe do integral, do cres- terna de enamorar-se, dar-se, de estar para homens e mulheres”
cimento do homem enquanto sensibi- com o outro respeitando os direitos, o
lidade, potência, fantasia e arte”, avalia. corpo e a vida”, analisa.
Ele aponta ainda, que a Esquizoanáli- Sob a perspectiva histórica, Flá-
se - conjunto de críticas à psicanálise vio explica que a sociedade brasileira foi
tradicional, bem como um novo instru- baseada na escravidão e no patriarcado,
mento para decifrar a subjetividade - em que o homem branco foi colocado
entende que a lógica machista, falocên- como provedor do lar. Esse patriarca
trica, de dominação, impede o homem era uma pessoa que devia ser respeitada
de explorar tudo o que vida possibilita e temida, por ter poder sobre a vida e a
em um corpo capaz de ser amor e so- morte de seus familiares e seus escra-
nho. Para se libertarem, homens e mu- vizados. Tinha um papel viril, provedor,
lheres precisam, então, desbravar novas mantenedor do lar. Nesse contexto, sen-
possibilidades: a masculinidade sadia e timentos que demonstrassem fraqueza
a feminilidade criativa, permitindo res- e sensibilidade eram vistos como ne-
gatar, no cotidiano, as potências do fe- gativos, um caráter estritamente femi-
minino. “Pouco a pouco o homem vem nino. Além disso, as mulheres negras e
se mostrando e mudando. A masculi- indígenas sofriam uma dupla violência.
nidade adoecida está em crise porque Além da escravidão, eram submetidas
inibe o prazer, a criatividade e a capaci- a violências sexuais ou mesmo uniões
dade de um corpo explorar-se enquanto não consensuais, uma vez que eram em
felicidade. Para viver uma masculinida- menor número as mulheres brancas Pedro e a filha Laura
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