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ções e é excluído do mercado. Ele passou por uma situação justifica. “Não consegui nada porque as pessoas não conse-
constrangedora ao participar de uma seleção para uma rede de guem conciliar o que está escrito (nome feminino) com o que
supermercados. No currículo, escreveu o nome de registro e o vê (homem)”, completa.
social (nome pelo qual prefere ser chamado e correspondente Na época da entrevista, Marcelo ainda não tinha feito a
à sua identidade de gênero). A recrutadora lhe questionou o retificação do nome social. Essa é, aliás, uma das grandes con-
que faria se os funcionários lhe pedissem para usar o banheiro quistas da comunidade. O provimento 73/2018, regulamen-
feminino. Nessa hora, ele se sentiu inibido. Mesmo assim, criou tado pelo Conselho Nacional de Justiça, garante o direito de
forças e devolveu a pergunta: “As mulheres me aceitariam no as pessoas trans alterarem nome e gênero sem a necessidade
banheiro delas?” O fato comprova que uma das maiores lutas de autorização judicial, laudo médico ou cirurgia. A mudança
do movimento é o respeito à identidade de gênero, ao nome pode ser feita diretamente nos cartórios.
social e ao tratamento condizente ao gênero. Wender Oliveira, servidor público e presidente da
A entrevista de emprego causou controvérsia e ofensa. ONG Marco Antônio Nascimento, faz atendimentos na
“Me senti mal. Você me olha e não vê uma mulher. Não tem FCU para auxiliar nesse processo. Ele e o marido, Valdir, já
esse negócio de banheiro feminino! Só porque ela viu meu têm mais de 50 “filhos” com nomes modificados. “Mudar o
documento, quis designar um banheiro que não era o meu!”, nome nos documentos significa renascimento”, resume.
Foto - Ighor Thomas
Wender e Valdir trabalham para a validação do nome social
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