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A minha quarentena


             Em março de 2020 o nosso país entrou em estado de emergência devido à Covid-19 e por isso tivemos todos
         de passar dois meses em casa, longe da família, longe dos amigos e longe da escola, ou seja, longe de todo o con-
         tacto social a que estávamos habituados.
             Neste isolamento, apesar de estarmos longe das pessoas, pudemos estar mais perto de nós próprios. Estivemos
         mais perto de nós mesmos enquanto estávamos à distância dos outros. A verdade é que nas três primeiras sema-
         nas de isolamento estava tudo bem, estava numa espécie de mini férias, mas a partir daí comecei a aperceber-me
         de algumas coisas, não só sobre mim, mas também sobre os outros. Uma delas foi o facto de situações que antes
         pareciam insignificantes, como o caminho para a escola ou um simples abraço, terem-me feito imensa falta. Eu vou
         a pé para a escola, o caminho é sempre a subir, então, esta sempre foi uma das “piores” partes do meu dia. No en-
         tanto, foi do que senti mais falta, do simples ato de ir de minha casa até à escola, claro que esse caminho é sinóni-
         mo de estar com amigos e de ter aulas que não são através de um ecrã de computador, talvez seja por isso que se
         tornou algo tão importante.
              Outro aspeto de que acabei por me aperceber foi o facto de ter criado uma despreocupação em relação à minha
         imagem, despreocupação esta que passou para a minha vida pós confinamento. O que estou a tentar dizer é que
         durante o confinamento, quando fazia uma mudança drástica no meu visual, como por exemplo, cortar o cabelo, se
         por acaso não gostasse, eu não me importava porque “estou em casa, logo, ninguém vai ver”, e acho que não fui a
         única que teve este pensamento, tendo em conta a quantidade de pessoas que mudou o visual durante estes dois
         confinamentos.

              Para além da minha bolha pessoal também tive oportunidade de perceber algumas situações nas vidas de ou-
         tras pessoas. O individualismo foi uma delas, este individualismo levava ao incumprimento das leis, aos ajuntamen-
         tos e às saídas dos concelhos de residência. Também me apercebi de como o trabalho de algumas pessoas pode
         ser instável, quer para o bem ou para o mal. Num restaurante, por exemplo, numa semana podem ter as mesas
         todas cheias e na semana seguinte terem de fechar o estabelecimento e passado um mês fechar o negócio de vez.
         Por outro lado, as lojas online foram algo que beneficiou muito com a quarentena, sejam elas de roupa, de doces,
         de decoração para a casa, etc.

              Para concluir, posso dizer que o isolamento trouxe consequências boas para uns, más para outros e terríveis
         para alguns, mas na minha perspetiva e experiência pessoal o mais importante foi, no imenso tempo livre que tive,
         ter tido a oportunidade de me conhecer melhor e conhecer novas perspetivas.
                                                                                       Maria Sousa Santos Silva, n.º 16, 12.º CT3

                                   Desabafos de uma mente confinada


                Há três meses que os dias me parecem todos iguais, que olho para as mesmas quatro paredes, que não
         sinto o tempo a passar ou talvez o sinta a passar rápido demais, não sei. Dizem que a adolescência é a melhor
         altura das nossas vidas e, se calhar, por isso, esteja tão angustiada: foram-me roubados os melhores anos.
                Agora que ainda estamos em confinamento, os meus dias baseiam-se em acordar, estudar, ter aulas onli-
         ne e esperar pela noite porque, apesar de ter todo o tempo do mundo, entre todos os trabalhos e testes futuros, a
         noite é a única altura em que posso relaxar e fazer aquilo de que gosto (como agora o estou a fazer sentada ao
         computador, com uma caneca de chocolate quente, a escrever para vocês). Portanto, a verdade é que ando por
         aqui a fingir que vivo.
                Tenho saudades de ir beber café para uma esplanada, de ir para o jardim de Belém ver o rio, de ir à praia
         e sentir a areia e o mar frio nos pés. Tenho saudades de abraçar as minhas avós sem medo de lhes pegar este
         bicho estranho que as assusta tanto. Tenho saudades da vida.
                  Ainda assim, poderia estar pior. Ao menos tenho a sorte de ter amigas que moram ao pé de mim e que
         me tiram de casa um bocadinho, o que já ajuda bastante a tolerar esta rotina.
                É quase absurdo pensar que o novo “normal” é considerarmos sorte sair à rua, nem que seja dez minutos
         enquanto se passeia o cão. Há dois anos ninguém imaginaria isto, poder estar fora dos nossos lares era um direito
         garantido.



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