Page 24 - Cassandra
P. 24
ANABELLE
D A V I D A L M E I D A
S
ei o que sentes por mim porque eu sinto o mesmo por ti - algo intenso e verdadeiro da minha parte; da tua, sinto
uma enorme ternura e um porto de abrigo quando estou mal, és aquela pessoa a quem eu recorro quando tenho algum pro-
blema, mas também aquela que é a primeira a saber quando algo corre da melhor forma, e que se depara com a minha eu-
foria e felicidade, em primeiro lugar.
Mas sabes tão bem quanto eu que há algo que nos separa e que vai para lá das minhas competências e dos meus ape-
tites - a tua maneira de ser é intolerável, não só para os meus pais, mas também para toda a minha família mais chegada.
Não consigo entender como pode alguém ou, neste caso, a minha família, ser tão egoísta ao ponto de apenas pensar naquilo
que lhes agrada e não naquilo que sinto e que é melhor para mim. Dizem que és “uma moça que me leva para maus cami-
nhos”, mas na verdade eu é que sei se tu me levas por maus caminhos ou não, e tu fazes-me imensamente bem.
Quero que saibas que, por mais amor que tenha à minha família, pretendo lutar pela nossa relação, por aquilo que
sinto por ti e por aquilo que que me faz sentir no auge da felicidade. Se a minha família não gostar? Se a minha relação com
eles ficar diferente? O sentimento é algo abstrato, algo difícil de explicar a alguém; portanto, impossível de o fazer à minha
família, que são puramente conservadores, dados a tradicionalismos no que diz respeito a relacionamentos.
Quero que saibas que pretendo fazer-te uma rapariga feliz, não querendo de maneira alguma que te sintas mal na
presença da minha família. Sou um rapaz de ideias fixas e, por isso, pretendo abrir os olhos à minha família, e se não conse-
guir convencê-los por completo de que és aquilo que quero, então, no mínimo, que te respeitem tal como és, enquanto pes-
soa - a tua forma de ser e a tua forma de vestir não dizem aquilo que és por dentro.
Com isto, pretendo tornar o nosso relacionamento oficial. Vou marcar um jantar de família e discutir este assunto, de
maneira a que percebam aquilo que significas para mim e que este sentimento é correspondido, não se trata de uma paixo-
neta.
Esta situação pode acabar de duas formas muito distintas: ou eles aceitam aquilo que sinto por ti e aceitam a pessoa
que és, tal como és, ou nunca mais ouvirás falar de mim a não ser no obituário.
23

