Page 46 - CIBERCULTURA: LINGUAGEM, LÍNGUA E VARIAÇÃO
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discrição,  muitos  tinham  cadeados,  visto  que  era  importante  resguardar  a

             intimidade e manter sob sigilo os segredos outrora revelados. A transição do papel

             e caneta para os clássicos diários eletrônicos, não muda apenas o suporte, mas

             modifica a nossa subjetividade, transforma nossas identidades.
                    O  leitor  e  escritor  dos  séculos  passados  necessitavam  da  solidão  do  seu

             quarto,  dos  espaços  de  silêncio  e  solidão  para  criar,  escrever,  ler  e  produzir.

             Segundo  Sibilia  (2016,  p.  102),  “esse  indivíduo  que  lê  e  escreve  sozinho,

             concentrado e ensimesmado num ambiente livre de ruídos e outros intromissões,

             atividades  que  se  tornaram  essenciais  para  a  formação  de  sua  peculiar

             subjetividade”,  a  solidão,  a  necessidade  de  um  ambiente  restrito  auxiliava  na
             constituição  do  sujeito,  em  seu  autoconhecimento  e  na  produção  de  sua

             subjetividade e identidade.

                    Na  atualidade,  o  escritor  necessita  tornar  pública  sua  intimidade,  tem  vício

             pela  aprovação  alheia,  precisa  das  curtidas,  comentários  e  emojis  para  se  sentir

             feliz.  Como  Foucault  (1993,  p.  58-59)  denuncia  “tanto a ternura  mais  desarmada

             quanto  os  mais  sangrentos  poderes  têm  necessidade  de  confissão”.  Foucault
             (1993) explica que o homem do Ocidente para constituir sua identidade tornou-se

             confidente. Do simples hábito de contar histórias, o homem agora tem necessidade

             de buscar no mais profundo da sua intimidade narrativas que o desvende, que o

             desvele, que o explique e com elas ele tece sua identidade, que para ser tecida,

             construída, necessita do outro para constituir-se como sujeito na pós-modernidade,

             em que nossas identidade são fluídas.

                    Bauman  (2005,  p.  17)  afirma  que  “a  noção  de  identidade,  bem  como  o
             pertencimento não são sólidos como uma rocha, não são garantidos por todo uma

             vida, são na verdade bem negociáveis e podem se tornar nulos”. Ele ainda defende

             que  “as  decisões,  as  rotas  e  a  maneira  de  agir  do  indivíduo  e  sua  firmeza  em

             relação  a  tudo  isso  são  determinantes  para  a  questão  da  identidade  e  do

             pertencimento”.  Nessa  perspectiva,  é  muito  importante  que  professores  e
             educadores  estejam  aptos  a  discutir esses temas  em sala  de  aula  para  levar  os

             alunos a uma reflexão sobre a exposição da intimidade e sobre os problemas que

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