Page 6 - JORNAL SINTE FLORIANÓPOLIS_nov 2020
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       Descaso com o magistério

       A precarização das condições de trabalho



       do professor e os efeitos na Educação






             o longo de décadas,
             o magistério foi estig-
      Amatizado como uma
       categoria adoecida. E, conside-
       rando alguns aspectos vividos
       pela categoria, tal pensamento
       não é assim tão equivocado.
       As doenças presentes nos(as)
       trabalhadores(as) da educação,
       na maioria das vezes, são frutos
       da precarização do ambiente
       de trabalho.
          Não é nenhuma novidade
       dizer que o volume de trabalho
       colossal, provocado pelo não
       cumprimento de ⅓ de hora
       atividade, os baixos salários, as
       turmas superlotadas e o cons-
       tante assédio são os grandes   É comum ver profissionais com lesões por esforço repetitivo e/ou com doenças psíquicas.
       responsáveis pelo adoecimen-
       to de professores.            pela manutenção dos direitos  produtiva não fez suas vítimas   Isolamento social - Desde     Historicamente, obser-
          No entanto, para pensar-   conquistados. E, diferente-   apenas naqueles (as) que pos-  março, o nosso cotidiano trans-  vamos o pouco caso, dos
       mos sobre a condição de tra-  mente dos países centrais do  suem vínculos de trabalho  formou-se como jamais pode-      governos estaduais, com as
       balho de qualquer categoria,  capitalismo, que em alguma  passageiro, mas também nos  ríamos prever. O avanço da  doenças que adquirimos por
       é preciso de uma contextua-   medida implementaram um  cargos efetivos. As condições  Covid-19 impôs a quarentena  conta das más condições de
       lização histórica. A partir dos  Estado de bem estar social,  de trabalho do magistério em  que trouxe profunda transfor-  trabalho e o pensamento de
       anos 70, por exemplo, houve  aqui, isso não ocorreu.        muito degradam-se em Santa  mação no modo de trabalho.  que há sempre alguém para
       um processo de reestrutu-                                   Catarina. O discurso da auste-  Na educação, os governos e  nos substituir. Agora, querem
       ração produtiva que atingiu      Impermanência - Com a  ridade nos acerta em cheio,  o setor privado já ensaiavam  fazer experiências com nos-
       primeiro os países tidos por  justificativa de realizar con-  pois, como funcionários públi-  formas de inserir o ensino a dis-  sas vidas, conjecturando uma
       desenvolvidos e, posterior-   tratações mais ágeis e que  cos, o Estado diz economizar  tância no Ensino Básico, mas,  volta às aulas presenciais em
       mente, as periferias do sistema  atendessem às demandas  quando, na verdade, superlota  o que era ensaio, tornou-se  meio a uma pandemia.
       capitalista. Todo esse processo  emergenciais, formas de con-  salas de aulas, retira direitos já  realidade com a pandemia.  Não aceitaremos experi-
       atrelou-se ao desenvolvimento  tratação da força de trabalho  conquistados e congela salá-   Em Santa Catarina, a tran-  mentos conosco, não existe
       tecnológico de cada região e  docente por tempo parcial  rio e carreiras.                 sição do presencial para as  protocolo seguro sem vaci-
       favoreceu a flexibilização dos  foram criadas, com direitos    É comum ver profissionais  aulas remotas ocorreu sem  na, vidas são insubstituíveis.
       contratos trabalhistas.       e garantias diferenciados. É  com lesões por esforço repe-  nenhum diálogo com a cate-    Enquanto regional, não temos
          Além disso, existe o discur-  comum observar Brasil afora  titivo e/ou com doenças psí-  goria. Tal regime precariza  uma fórmula mágica para solu-
       so da austeridade que colo-   tentativas de terceirização, de  quicas. Adoecemos em gran-  ainda mais o nosso traba-    cionar, mas, acreditamos que
       ca o professor em um grupo  implantação de Organizações  de parte pelo resultado das  lho. Pagamos a conta de  é necessária a união da classe
       social privilegiado, portanto,  Sociais (OS), uberização que  políticas educacionais (ou a  luz, de água, de internet, o  trabalhadora para combater o
       passível de ter seus direitos  tendem a aumentar ainda mais  falta delas) implementadas ao  computador e até mesmo a  avanço da precarização e os
       subtraídos. Nas últimas déca-  o contingente de trabalhado-  longo dos anos. Boa parte da  cadeira. Tornou-se rotineiro  joguetes com nossas vidas.
       das, direitos que havíamos  ras (es) precarizadas (os).     categoria não consegue saber  o trabalho na madrugada e  Estabelecer um diálogo com
       conquistado se tornaram          Porém, a flexibilização de  onde irá trabalhar no próximo  finais de semana. Tudo sem  a sociedade e assim lutar por
       ameaçados e, de uma hora  contratos trabalhistas não é  ano ou se conseguirá empre-       o devido treinamento e con-   políticas públicas que garan-
       para outra, paramos de rei-   exclusividade de nenhum  go. Por fim, descobrimos uma  dições infra-estruturais para  tam estrutura e acesso a uma
       vindicar melhorias para lutar  grupo social. A reestruturação  máquina de moer gente!     professores e alunos.         melhor educação.
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