Page 172 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Ele avançou pela alameda do jardim envolvido pelo vento a lhe desarranjar
as roupas e os cabelos que usava compridos, caídos sobre os ombros. Victor o
espreitava avaliando sua figura jovem, muito alta e muito máscula, com
movimentos elegantes como os de um felino e notou que, após se decidir, já
não havia nos modos do estranho nenhum vestígio da recente hesitação.
Ele seguiu pelo caminho que o levaria à porta de entrada com a desenvoltura
dos homens cheios de confiança e força.
E Victor, invadido pela visão do seu presságio, pensou que talvez houvesse
uma minúscula chance para um desvio do destino e que afinal não se
materializasse o inevitável. Mas reconheceu esta possibilidade como vã pela
voz alegre e despreocupada de Isabeau, que veio do jardim de inverno atraída
pelo som da campainha, avisando aos empregados que ela mesma atenderia a
porta.
Justamente Isabeau, a pessoa mais improvável para estar ali, naquele dia e
naquela hora.
Victor chegou até a passagem entre o corredor e a porta da biblioteca e se
deixou ficar num pequeno rincão de onde conseguia ver a entrada principal
do casarão sem ser visto, oculto pela estante cheia de livros colocada naquele
lugar para exibir aos que entrariam no recinto sagrado uma amostra dos
tesouros que iriam encontrar.
E então, obedecendo algum mágico desígnio da vida, Isabeau abriu a porta e
o vento morno e perfumado trouxe para a sobriedade da velha casa, Jacques
Lan.
E Victor, fascinado. Percebeu o tempo suspenso naquele instante infinito em
que as duas almas, de Jacques e Isabeau se encontraram. Segurou por um
segundo a respiração, consciente de ser espectador do momento supremo,
único e tão raro nas vidas dos seres humanos.