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Capítulo 10 Isabeau e Jacques Lan
Jacques Lan chegou a Terra Alta e ao casarão Gatopardo trazido pelo vento.
Foi essa a impressão que Victor carregou por toda a vida desde a tarde em que
o vira caminhando em meio ao vendaval que agitava as árvores do jardim.
Uma impressão que assumia ares de certeza porque se renovava sempre que
Victor pensava sobre aquele dia. Um dia descrito por ele como tendo
amanhecido e continuado todo errado.
Desde muito cedo, ainda madrugada, Victor havia intuído algo de
extraordinário provocado pelo desassossego de uma brisa estranha,
inesperada, que começara a soprar de mansinho desde passada à meia noite.
A brisa, aos poucos, ficou mais forte e atrevida, até se transformar numa
ventania correndo pelos caminhos entre os Ipês e os canteiros de junquilhos
amarelos, fazendo as folhinhas secas se erguerem em bailados rápidos e
rodopios engraçados e a se esgueirar pelas frestas das portas e janelas para
entrar nas salas e desarrumar as cortinas.
Era a primeira ventania do outono e ela ainda veio morna e perfumada e tão
insistente que depois de envolver e abraçar tudo e todos, provocou arrepios,
que não sendo de frio, seriam certamente de presságios.
Tudo pareceu fora de lugar com aquele vento insidioso.
Victor levantou ainda antes dos primeiros raios de sol, surpreendido pela
súbita incapacidade de ficar na cama. Incomodado sem saber por que, desceu
as escadas às escuras até uma cozinha que encontrou anormalmente
desarrumada. Consuelo, a cozinheira, havia decidido deixar sobre a larga
mesa de madeira, os tachos para o preparo das geleias e compotas e a fileira
de recipientes com suas tampas de ferro, fez Victor se lembrar dos tempos em
que a cidade e o Casarão foram invadidos pelos soldados do general e ele se