Page 166 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Conseguiu para si próprio uma nomeação como embaixador e escolheu os mais
distantes destinos do planeta. César prontificou-se a acompanhá-lo.
Providenciaram uma verdadeira estrutura funcional a ser administrada pelos
advogados das famílias para os cuidados com a pequena Isabeau, a época
prestes a completar apenas quatro anos, que ficou com enfermeiras,
preceptores, cozinheiras e encarregados dos serviços gerais, no Casarão
Gatopardo.
E Victor e Cesar partiram, a princípio, por apenas “algum tempo.” Mas a ideia
desse algum tempo, que conscientemente para Victor não poderia ser
indefinido ou muito longo porque ele nunca deixou verdadeiramente de estar
ciente de suas obrigações, mesclou-se a sua completa desilusão com a vida que
ele tentara criar ao seu redor na luta para se tornar um ser humano bom.
Merecedor da dádiva suprema de estar vivo. E teve o estranho poder de
distorcer a sua percepção do verdadeiro sentido do que seria esse “algum
tempo” ou “passar algum tempo”, e o que deveria ter sido um afastamento
curto, de poucas semanas ou meses, durou longos, quatorze anos.
Após os primeiros sete anos de completo afastamento de Terra Alta, Victor
afinal reconheceu Isabeau em meio ao pesado manto de revolta e frustração
que o esmagava. Quando a menina estava às vésperas de completar onze anos
e era a imagem da solidão, Victor reconheceu-a em meio ao véu nebuloso de
mágoa, raiva e fracasso que obscurecia sua mente e resgatou-a, cobriu-a de
mimos e reorganizou sua vida de maneira a nunca mais se ausentar da
presença dela.
Viveram a partir daí, os três, como nômades, durante os sete anos seguintes
para só então voltarem à Terra Alta e ao Casarão Gatopardo.
A região estava mudada, a cidade estava mudada. Victor não voltou a se
ocupar da vida nas montanhas.