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E entre os Gatopardo e os Astu Ninan a violência da doença foi ainda pior.


                      Em menos de dois meses morreram, a mulher e os dois filhos de Victor e toda
                      a  família  do  patriarca  Astu  Ninan,  a  exceção  de  Cesar,  sem  que  nenhum
                      esforço fosse suficiente para salvá-los.

                      Cesar que estava em Portugal quando soube da condição crítica da irmã e do
                      estado preocupante do resto da família contrariou todas as recomendações e
                      voltou às pressas para encontrar Victor ao lado da mulher agonizante com
                      constância e dedicação muito maior do que ele jamais foi capaz durante os
                      trinta e três anos em que estiveram casados. E dias depois as imagens dos dois
                      homens ladeando o corpo durante os serviços fúnebres esparramaram-se pelo
                      mundo com a insistência e com o apelo que o nome Cesar Astu Ninan sempre
                      provocava.

                      Passaram-se  semanas  que  pareceram  anos  de  agonia  só  silenciada  com  a
                      chegada  da  morte  quando  o  motivo  das  lágrimas  antes  provocadas  pelo
                      sofrimento com os pulmões sufocados que não deixavam mais a vida entrar
                      em  sopros  de  ar,  era  superado  pelo  desespero  dos  que  viam  as  pessoas
                      morrendo.


                      Medo e tristeza se misturavam e as lágrimas corriam indistintas por ambos.

                      Cesar chorava baixinho. Desejava não ter brigado tanto com a família acerca
                      de tudo. Desejava ter falado mais com o pai e ter simplesmente sido capaz de
                      amar mais a mãe, os irmãos e os sobrinhos. Desejava ter sido um pouco o que
                      esperavam dele.

                      Victor  se  fechou  na  conhecida  amargura  e  na  raiva  insana  que  mantinha
                      latente no coração desde a madrugada do suicídio do seu irmão e foi como se
                      caísse num poço escuro, muito fundo e cuja minúscula abertura para a luz, lá
                      em cima, estivesse se fechando inexoravelmente.
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