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e em consequência pela tragédia que se abateu sobre eles. E no centro deste
                      enrosco estava Victor Gatopardo.


                      De um minuto para o outro Victor se transformou de alguém admirado por
                      sua correção e senso de justiça em símbolo da dominação do rico sobre o pobre
                      e o responsável pela comunidade dos Yana. E na trilha do ressentimento e em
                      boa parte por oportunismo puro e simples, começaram os discursos em que a
                      sociedade  terraaltina  foi  dividida  entre  “nós”  e  “eles”,  sem  nunca  ficar
                      satisfatoriamente  explícito  quem  seriam  os  “nós”  e  os  “eles”,  aparecendo
                      como  citações  que  remetiam  sempre  às  relações  nefastas,  ligações  escusas,
                      interesses impróprios, castas, classes, os bons e os maus, o bem e o mal, e toda
                      uma série de entendimentos maniqueístas a depender de quem fosse o orador.

                      Dependendo de quem ocupasse o palanque, o “nós”, servia para designar os
                      oprimidos, aqueles menos favorecidos economicamente e cuja pregação dizia
                      fazerem parte de uma camada da sociedade cuja ascensão social não era nem
                      desejada e nem permitida pela elite, a qual, elite, neste tipo de discurso seriam
                      “eles”.

                      Mas  esta  percepção  podia  ser  facilmente  confundida  caso  o  orador  fosse
                      ocupante de um cargo público e alinhado com o poder vigente, mesmo que
                      essa pessoa, o orador, individualmente pertencesse à elite economicamente
                      favorecida,  o  que  deveria  ser  deixado  de  lado,  nunca  mencionado  ou
                      lembrado, porque estaria se colocando como representante de uma linha de
                      conduta que se pretendia a favor da maioria do povo e então esse “nós” se
                      referiria a todos que se identificavam com as orientações e ações desse poder
                      e se apresentaria como a voz legítima para falar por toda população.


                      Daí, muitas vezes, fanáticos pela fórmula de “nós” e “eles” se colocarem como
                      pilares  da  verdade  absoluta  sem  admitir  a  possibilidade  de  incorporar
                      oratórias  e  efetivar  ações  para  minimizar  e  até  eliminar  as  diferenças  e  a
                      importância do, “eles”, em oposição a, “nós”.
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