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Capítulo 11 A Casa dos Ipês Amarelos
Jacques Lan precisou de setenta e três horas, dezessete minutos e quarenta e
sete segundos para conseguir se libertar do espesso manto de angústia e
desespero em que se viu enredado. Incorporar a dor que lhe devassava a alma
e transformar numa cicatriz profunda e indelével, a terrível ferida aberta.
Então emergiu do processo de autocomiseração liberto e renovado em sua
determinação e sua força.
Começou com um demorado banho morno que ele fez durar enquanto lhe
duraram as lágrimas silenciosas a lhe embaçarem a visão. Livrou-se da barba
cerrada que lhe dava uma aparência selvagem e trocou as roupas rústicas do
trabalho de campo, por acolhedoras roupas de algodão que gostava de usar
no laboratório. Saiu de novo para a vida com a firme decisão de não perder
mais nem um segundo com lamentações e se assegurou de ter bem presente no
espírito as suas verdades. E a primeira delas era seu amor inabalável por
Isabeau e o amor dela por ele.
Assegurou a si mesmo, repetindo mentalmente até gravar como verdade
inquestionável no seu espírito, que a sua salvação e a preservação da sua
sanidade, no momento, dependiam dele conseguir fixar sua atenção nas
pequenas coisas, na retomada firme do fazer passo a passo as minúcias da sua
rotina de trabalho para se manter ocupado com assuntos do seu profundo
interesse. O resto viria depois...
Desceu para a copa e foi encontrar Victor ainda instalado à mesa do café da
manhã e ficou satisfeito ao notar seu olhar de aprovação. Mas o velho
Gatopardo que ficara atento aos rumores do quarto fechado e contara os
segundos daqueles três dias em que Jacques se escondera do mundo, estava
cauteloso, deixou Jacques direcionar a conversa e começaram com
amenidades. Até que sem aviso, hesitação ou nenhuma fórmula de cortesia
para assinalar a transposição do assunto, Jacques perguntou com clareza.