Page 202 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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O espanhol assistia Cesar entrar no bar e ocupar uma pequena mesa de canto,
colocada no mesmo lugar desde sempre e encarava-o com uma atitude
perfeitamente displicente. Não mostrava o menor indício de reconhecê-lo,
muito embora isso fosse impossível, pois além da enorme fama de Cesar que
reproduzia seu rosto em cada canto do planeta, o espanhol o conhecia
pessoalmente desde a infância de Cesar e sua própria mocidade e o vira, ainda
adolescente, percorrer aquela mesma rua centenas de vezes e atendera-o
naquele mesmo balcão, servindo-o das bebidas e dos cigarros proibidos,
naquela mesma mesa.
Essa atitude adotada pelo espanhol de total desprezo pela celebridade deixara
Cesar encantado e transformara o bar num dos poucos lugares que ele fazia
questão de frequentar sempre que estava na cidade.
Um dia, acomodado numa das mesas diante de uma taça de martini seco com
azeitonas e uma rodela de limão,
Cesar comprara a propriedade batizada como Girassóis, Ipês e Junquilhos
Amarelos.
Em um momento raro, de verdadeira empatia por um completo desconhecido.
Um homem muito velho, mesmo para a bem vivida madures de Cesar, se
aproximara da mesa que Cesar ocupava, imitando a atitude do dono do café,
sem parecer nem minimamente impressionado por estar diante do
famosíssimo personagem e lhe fizera a proposta extraordinária.
Cesar comprou a propriedade descrita apenas como muito grande e agradável,
concordando com a quantia pedida e pagando-a de imediato, em moeda
corrente, pois de tão irrisória ele a tinha no bolso, além de prometer
solenemente, comparecer ao lado do leito do velho quando o soubesse
moribundo e leva-lo ao cemitério depois de morto.
Mas a verdade é que Cesar Ninan, na ocasião, não levara verdadeiramente a
sério o acordo. Julgara que o estranho havia aplicado um desses golpes para