Page 249 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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As palavras atingiram-no como se fossem um comando para uma tortura
espiritual acionada inadvertidamente por Wayra Kori, lembrando-o que
haviam arrancado suas asas, deixando no lugar os tocos esfacelados em carne
viva.
Cesar se deixou cair de joelhos, lutando para respirar. Agitou os braços num
abraçar-se desesperado, envolvendo-se em si mesmo, tentando alcançar, nas
costas, o lugar exato da mutilação criminosa.
Olhava por sobre os ombros para ver o que restava dos membros que seriam
o símbolo da liberdade. Debatia-se querendo se livrar da revolta e sufocava
um grito em sua própria imensidão, porque não encontrava a força ideal para
expressar tanta dor num único berro.
Desfaleceu sobre o piso de pedra e caído percebeu entre névoas a figura da
mulher alada, cercada por Loop e Mahoo, que agitados em aflição, vinham
tentar resgatá-lo. Protegê-lo dos seus próprios movimentos alucinados.
Sentiu braços que tentavam contê-lo, vozes que o chamavam à razão, súplicas
para que se acalmasse.
Procurou a face de Wayra Kori. Evocou-a em toda sua majestade e sua beleza
indescritível e inumana. Impossível de ser compreendida ou sequer
acreditada. Mas foi o rosto de Isabeau que viu se delineando, misturado aos
traços impressionantes da mulher pássaro.
Desfeito em lágrimas e aflição, o rosto de Isabeau longinquamente conhecido
foi surgindo dentre a névoa de sortilégios, se impondo para o reconhecimento
de Cesar. Magicamente, como acontece com os contornos de uma impressão
fotográfica que vai emergindo sob a ação do líquido revelador.
Então Cesar tentou chama-la, mas qual nome chamaria? Sem se aquietar
minimamente, na sua agonia dolorosa física e mental tentava lembrar qual
nome chamar para implorar misericórdia.