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Capítulo 17                    Os Mantos e os Livres




                      Cesar vivia entre nuvens. Adivinhando coisas e gestos, sentindo presenças,
                      intuindo situações. Nada nunca parecia a ele completamente certo, confiável,
                      concreto, indiscutível. Tudo eram apenas impressões em um eterno poder vir
                      a ser.

                      Vivia  uma  vida  de  sonhos  com  sua  dinâmica  imprecisa  e  poderosamente
                      criativa. Uma vida que precisava ser aprendida aos poucos para ele se adequar
                      a  ela  e  adequá-la  ao  seu  próprio  ser  que  ele  percebia  diáfano,  fluído,
                      irreconhecível, um quase não ser.

                      O não ser que lhe parecia cada vez mais exato porque, se lhe perguntassem,

                      ele saberia dizer sem dificuldade tudo o que não era.

                      Não  era  feliz,  não  era  compreendido,  não  era  livre  e  não  era,  estava
                      convencido,  totalmente  humano,  mas,  sobretudo  e,  o  pior  de  tudo,  ...não
                      tinha asas e, portanto, não era um ser alado.

                      Mas não obstante, dentre as brumas ele se via cercado por seres alados.

                      Hipnotizado  pelo  farfalhar  da  agitação  das  penas  e  das  asas  formando
                      turbilhões  de  ondas  peroladas,  erguendo  emanações  que  reverberavam  e
                      pulsavam e se insinuavam entre tudo e todos e o trespassavam porque Cesar
                      sentia o movimento louco de voar no mais recôndito de si mesmo.


                      E então, repentinamente, já não havia mais o impossível ou o irreal e ele soube
                      que nada poderia ser mais verdadeiro.

                      Estava em meio dos seres fantásticos alados. Altos, belos, soberbos em suas
                      cores  brilhando  sob  mil  flashes  de  luz  e,  num  impulso,  sem  pensar,  Cesar
                      buscou Victor com os olhos. Acreditou vê-lo logo mais adiante por trás das
                      nuvens  de  asas  agitadas,  mas  quando  a  figura  que  lhe  atraíra  a  atenção
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