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Capítulo 18 Entre mundos
E aquele jantar foi, como o resto das experiências que vivenciava desde o
descer da escadaria que o levou para sua loucura, um acontecimento surreal.
Cesar soube, com um saber muito nebuloso e que se lhe afigurava antigo, que
estava em Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos e essa volta foi como a
sensação da queda brusca e assustadora no leito, durante um sono cheio de
sonhos ininteligíveis.
Nada era para ele exatamente compreensível ou totalmente reconhecível.
Os corredores se tornaram infindáveis, salas e salões se multiplicaram em
sequência transformando as tentativas de sair deles um feito quase
impossível, e as escadas pareciam materializar interminavelmente novos
degraus que se inclinavam sempre para o lado que não se queria ir.
Desorientado, com vagos lampejos de lembranças, incapaz de discernir
plenamente nada e ninguém, Cesar se movimentava com a forte impressão de
estar dando voltas sobre si mesmo e se convenceu de estar preso e perdido num
labirinto.
Às esperanças misturava certezas e assim acreditava que logo à frente, por
trás da próxima porta ou na esquina do corredor, ou talvez ainda do próximo
canto da parede, encontraria novamente a entrada para a caverna dos seres
alados.
Havia evidências que sustentavam essa crença. O longínquo farfalhar das asas
que lhe chegavam de repente atraindo-o para uma ou outra direção, um fiapo
de nuvem que escapava e vinha flutuando para envolvê-lo ou a insinuação do
perfume de Wayra Kori.