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alguma maneira. E então soube que Hakan iria encontrar-se com Jacques no
Atacama e que depois talvez fossem até a vila onde sua mãe vivia. Por isso
esperou lá por eles.
Viu-os chegar cobertos pelo pó do deserto e recebeu Jacques com o coração
aos saltos. Há quase sete anos que não o via e agora o encontrava exatamente
como o havia espreitado em seus sonhos e idealizado em pensamentos, belo
como um deus e soberano dos próprios anseios. Como sempre ele a tratou como
a uma irmãzinha que não via há muito tempo, chegando a comentar como ela
havia crescido.
Rosário notou as novas preocupações dele, a disposição para se envolver em
assuntos que nunca antes o haviam interessado, negociatas, politicagens,
investigações de coisas escusas e se preocupou por ele. Notou a impaciência e
a pressa dele em voltar para Isabeau e soube que esta percepção, mais do que
qualquer outra, definia como seria seu relacionamento não apenas com ele,
mas também com essa mulher.
Estava decidida a se aproximar dela como uma amiga incondicional para,
através dela, garantir a felicidade de Jacques porque em Rosário não havia o
sentido da posse do ser amado, mas tão somente o da generosa entrega de si
mesma ao serviço do amor.
Rosário era feita de puro amor e música.
E era capaz de tal coerência e integridade consigo própria, que fora a formação
que escolhera para o cotidiano da vida. A de musicista.
Enquanto Hakan, durante os anos que ambos frequentaram a escola,
entregara-se às lides científicas, Rosário pedira ao pai que a matriculasse
numa escola de música. E aprendeu os fundamentos do piano e apaixonou-se
pelo violoncelo, mas só conseguiu se revestir de corpo e alma pelas harmonias
das composições quando conheceu profundamente a obra de Piazzolla.