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Adulta e já formada, começou a se destacar pela qualidade da sua
interpretação e teria sido perfeitamente feliz apenas com isso, se não sentisse
o chamado das inquietações espirituais através da ancestralidade do povo de
sua mãe. Porque Rosário, assim como a mãe, era uma Runa, um ser, como
muitos dos seres das montanhas, dotado de uma sensibilidade espiritual
especial que evoluiria conforme se aprofundasse nos rituais preparatórios e na
observação de ações específicas de purificação, até atingir um nível elevado
de expansão da consciência e integração cósmica.
Ela acreditava nisso com todo fervor e por isso o conhecimento com Cesar
Astu Ninan, reconhecido pelos povos andinos, por ser da linhagem Astu
Ninan, como alguém que já conseguira um nível de consciência superior, era-
lhe tão importante. E Rosário ficou encantada por ele.
Sentiu emanar de Cesar a paz espiritual que vinha procurando há muito
tempo e intuíra que tinham uma trilha comum de vida a ser percorrida, para
ela merecer absorver esta paz.
Cesar, que desde sua síncope se embrenhava cada vez mais profundamente
por uma encruzilhada no caminho da existência em que se conectara
simultaneamente a dois mundos, começara a enxergar a vida em Girassóis,
Ipês e Junquilhos Amarelos de uma forma que lhe seria impossível explicar
aos que o rodeavam.
Havia uma neblina fininha e permanente sobre seus olhos que precisava ser
descortinada para deixar entrar plenamente a luz. Em meio às sombras ele
via os dois caminhos, eles seguiam paralelos e se cruzavam e sobrepunham de
repente, inadvertidamente, transgredindo as leis da física e ele compreendia
que deveria seguir simultaneamente em ambos por longos trechos
incompreensíveis.