Page 289 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
P. 289
Para Cesar era tudo tão claro, tão límpido e fácil de compreender que ele se
admirava da incapacidade de Isabeau e de todos os outros entenderem isso.
Ele interpretava cada nuance de cada uma das pessoas ali reunidas segundo
um prisma ampliado das possibilidades e entendia a transitoriedade de cada
situação segundo sua importância atribuída sob a ordem cósmica.
E nesta escala, qualquer das aflições humanas mostrava-se ínfima. Não mais
do que apenas uma minúscula perturbação minimamente sentida, efêmera e
fugaz na grandiosidade da existência.
Por isso Cesar alcançou uma profunda paz. Tão necessária a ele depois de toda
comoção e sofrimento que havia enfrentado. Assumiu e reconheceu um
sentimento que os muitos religiosos chamariam de estado de graça.
Ele percebia as atitudes dos que o cercavam, visivelmente curiosos sobre essa
recém adquirida tranquilidade e sabia-os inseguros sobre isso, observando-o
como se estivessem esperando a qualquer momento uma crise ou um desmaio.
Mas, estranhamente, Victor conseguiu ficar imune à precisamente essa
desconfiança, uma renovada capacidade de crer em Cesar se apoderou dele e
ele acreditou na tranquilidade e no equilíbrio demonstrado por Cesar e isso
agiu sobre seu próprio espírito como um bálsamo.
De uma forma nova, absolutamente espontânea e inesperada, a serenidade de
Cesar contaminou-o e subitamente Victor compreendeu a enorme farsa de
toda a comoção na qual se deixou enredar.
Sentiu a calma inabalável do cunhado e buscou em si a ressonância a essa
calma. E a mesma paz o alcançou e Victor compreendeu que todo o
estardalhaço provocado pelos discursos inflamados de JM.Yana eram apenas
isso, palavras cheias de insinuações que não resistiriam a análise séria e que
serviam para camuflar o problema real.