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Capítulo 19 Afinal precisamos falar sobre amor
Cesar pela maior parte da sua vida desacreditou do amor.
Era-lhe fácil lembrar todas às vezes que fatos sucessivos comprovaram a
primeira grande decepção até a conclusão inevitável de que o amor era uma
fábula, um engano, uma ilusão. Esse amor procurado ao final da trilha
ardente, ardilosa e perigosa da paixão quando todos os sabores já haviam sido
experimentados e as surpresas conhecidas, só restando a delícia da aceitação
e do reconhecer-se, mas que jamais eram encontrados.
Tudo o que Cesar conseguia após longos dias e até meses de febre e devastação
da razão e da consciência, era a decepção. A constatação da insignificância do
ser que acreditava amar, reconhecendo-o apenas como mais alguém
completamente banal e irrelevante a quem poderia, no máximo, se acostumar,
mas que seria ridículo continuar adorando.
Não!
Até mesmo uma consideração distinguida, na maior parte das vezes seria
inapropriada, diante da mediocridade do ser reduzido à condição de mero
objeto frequentemente na iminência de substituição.
Então, o amor, tão desejado e perseguido e cultivado através de todas as ações
e adulações e promessas e mil declarações, todas absolutamente sinceras e
ornamentadas pelas disposições ferrenhas de eternidade e imortalidade se
acabava com o último suspiro apaixonado e mesmo a imobilidade e o silêncio
mais absolutos neste instante tão especial e frágil, mesmo o maior cuidado e o
desejo mais profundo e a prece mais ardorosa, nunca conseguiam impedir que
o amor se evolasse e se perdesse, dissipado num milésimo de segundo naquele
pedacinho de tempo ínfimo entre o inspirar e o expirar em que tudo se
imobiliza suspenso num nada e, no qual, só então poderia ter sido,... mas