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próxima e permanente relação que poderia ter com ele. Em seu coração eles
se tornaram verdadeiramente e eternamente irmãos.
A cada vez que voltava das férias em Terra Alta para a sua vida europeia,
num verdadeiro périplo em busca da paz que iria perseguir durante anos,
levava os momentos com Victor como um tesouro de recordações que
serviriam como uma meta a ser perseguida a cada novo relacionamento.
Os anos, tendo incorporado seu amor por Victor e, entre seu fracasso
estrondoso como compositor até o momento extremo de uma dor
inimaginável quando enterrou toda sua família, Cesar viveu nos limites do
prazer e muito embora nunca tenha sido verdadeiramente feliz se reconhecia
imensamente privilegiado.
Depois de se libertar da responsabilidade e das expectativas e exigências de
seus pais, como resultado do susto com a síncope que o acometeu quando
estava com apenas quatorze anos e deveria ter sido lançado ao mundo como
o maior gênio musical de todos os tempos, foi deixado literalmente em paz
para ser e fazer o que bem lhe aprouvesse. E sem nenhum exagero se referia a
esse período da sua vida como os anos loucos.
Por muito tempo Cesar foi excessivo de várias maneiras, mas ao contrário do
comum não foi um adolescente rebelde no sentido exato do termo, daqueles
que parecem buscar motivos para malcriações, bater de portas e respostas
sarcásticas e enviesadas. Ele era e foi sempre muito quieto, introspectivo,
ensimesmado em pensamentos indecifráveis através dos olhos negros. E nessa
época assumiu a postura de fazer apenas o que queria. Sem explicações ou
discussões, nem sequer comentários. Nada lhe era negado ou proibido e por
fim, nem mesmo perguntado, uma disposição que rapidamente se configurou
a Cesar como ausência de interesse e de amor.
Ao completar a maioridade já sabia exatamente onde queria viver e como.