Page 297 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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sentia deixado, esquecido, desacreditado e feito invisível, impossível de se
amar. Então, qualquer ânsia de entrega de si para o outro se tornava uma
loucura que nem mesmo ele, acostumado a flertar com a loucura, se atrevia
arriscar.
Mas isso não fora sempre assim desde,... desde quando? Desde o seu despertar
para o sentimento de inquietação e ardência entre as pernas e sufocação e
palpitação do coração que parecia prestes a lhe sair pela boca e esborrachar-
se com seus olhos saltados das órbitas ao vê-lo e apenas por vê-lo, a ele, Víctor
Gatopardo, com toda sua insuportável beleza juvenil de ainda um quase
menino sob uma elegância que haveria de se tornar lendária e com a
capacidade de desprezar e esmagar e desnortear sentidos e sentimentos com
apenas um olhar ou um dar de ombros sem nem mesmo se aperceber disso.
Victor Gatopardo.
Alguém perfeitamente alcançável e completamente inatingível que fulminou
o coração, a alma e qualquer capacidade de Cesar Astu Ninan, desde aquele
entardecer, na biblioteca da mansão familiar em Terra Alta quando o vira
pela primeira vez e o deixara, para apresentar para alguns convidados uma
composição para violino de sua autoria que iria desconcertar Victor.
Desde aquele entardecer, Cesar jamais se libertou do amor por Victor
Gatopardo.
Mas se agarrava a sua verdade como a única chance de salvação para o perder-
se da sua alma e afirmava para si e para seus sentidos com todo o poder da
sua considerável inteligência, que nunca, jamais se apaixonara por Victor.
Amara-o desde sempre, mas jamais sofrera por ele, por paixão.
Amou Victor com o mais puro, casto e profundo amor de que seria capaz e ao
vê-lo se tornar oficialmente seu cunhado, quando Victor se casou com sua
única irmã, Cesar se alegrou sinceramente porque sabia que seria essa a mais