Page 342 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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Victor acreditou sinceramente e com enorme alívio que Cesar finalmente
encontrara seu equilíbrio e sua paz.
Porém não foi uma mudança totalmente equilibrada, os anos acabariam por
provar isso.
Foi verdade que a peregrinação andina recuperou em Cesar muito da sua
herança ancestral e despertou nele a compreensão e o respeito profundo pela
sabedoria dos povos das montanhas, mas não ao ponto de salvá-lo da sua
inquietação angustiante pelo significado e propósito de sua vida.
Apenas aplacou-a momentaneamente.
Por algum tempo Cesar incorporou uma naturalidade às crenças e uma
tranquilidade tão absoluta em adotar costumes e práticas espirituais ao modo
dos Astu Ninan nativos que, os que recém o conheciam, acreditavam ser essa
sua verdadeira natureza, mantida sob finas camadas de educação ocidental.
Ao ponto de inverterem-se os fatos e começarem a divulgar a versão dele ter
sido criado até sua idade adulta no coração dos Andes, nas aldeias dos vales e
planaltos, ao invés de ter Cesar nascido e sido criado, literalmente à vida toda,
sob a influência de gerações e gerações de Astu Ninans pertencentes à nata da
sociedade branca de Terra Alta, cujos costumes eram muito marcadamente
influenciados pelos hábitos dos europeus ocidentais.
E também era verdade que os caminhos das montanhas haviam-no
fortalecido. Aprendeu a meditar, aprendeu a cultivar sua paz, seu silêncio e
sua determinação para o equilíbrio das emoções.
E o fizeram, além disso, verdadeiramente compreender Victor.
As caminhadas pelas trilhas das montanhas ajudaram-no a entender a
importância, para Victor, de cada uma das ações para tentar melhorar as
condições de vida daqueles povos e suas necessidades mais prementes.