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Convencido que os pesadelos remetiam a sua experiência no cativeiro e às
terríveis torturas dos mercenários andinos, Cesar resolveu estudar mais sobre
os povos daquelas terras.
E antes de ir em busca de material acerca dos povos antigos e seus costumes,
se predispôs registrar cuidadosamente tudo o que se recordava da sua
experiência desde a chegada ao deserto do Atacama.
Sem a menor dificuldade, sua mente fervilhante fez jorrar para sua
consciência e para suas lembranças cada pequeno detalhe dos dias passados
aos pés do Calla Hoyara e sua subida pelas estreitas trilhas da montanha,
seguindo o caminhar do velho índio, seu amigo, até o mais alto do vulcão e
até serem capturados pelos guerrilheiros Las Luces.
Naquele minuto Cesar sorriu para si mesmo se convencendo que tudo aquilo,
tudo do que se lembrava que havia vivido, fora muito real.
Pensou em como seria voltar para aquelas terras, para os caminhos de subida
ao grande vulcão na busca pela conjunção cósmica que deixaria visível nos
céus dos Andes a “Raposa de Prata”.
E foi então que algo extraordinário aconteceu e Cesar foi invadido por uma
avalanche de informações e saberes sobre tudo que vira e vivera. Como se um
grande bloco de sinapses cognitivas se instalasse repentinamente ligadas em
sua cabeça e Cesar tivesse um novo acesso a tudo, a todo conhecimento, e ele
soube de tudo, lembrou-se detalhadamente de tudo.
Soube que em breve o milagre cósmico aconteceria e então as águas aos pés
do Calla Hoyara iriam subir, o rio Mayuasiry iria crescer nos seus dois leitos
divididos, a céu aberto e pelo interior das cavernas e no coração da montanha
sagrada no leito subterrâneo do rio, e uma inundação de vida e fertilidade
viria do vulcão nos Andes descendo a montanha em corredeiras violentas que
arrastariam tudo o que houvesse em seu caminho até o fundo do mais alto