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Mas também o fizeram convicto de muitas das suas inutilidades.
Por isso jamais foi um colaborador. Compreendia a necessidade de ação de
Victor muito mais do que o próprio Victor poderia imaginar e se comprazia
ajudando com dinheiro para viabilizar muitos dos seus projetos, mas nunca
participou deles.
O mais próximo que esteve de uma participação em alguma causa envolvendo
povos das montanhas foi durante a tragédia dos marceneiros assassinados em
Mayuasiri Pacha, quando acompanhou o cunhado ao encontro secreto com os
líderes Yana.
Depois, durante a cruel perseguição à comunidade Yana pelo povo da região
de Terra Alta, que os culpava pela disseminação da doença que martirizara
todos da cidade e das montanhas, Cesar se absteve de qualquer palavra.
Assistiu ao sofrimento de Victor, tentou confortá-lo pela tragédia que os
afetou, a ambos, mas nunca se declarou a favor ou contra aquele povo
estranho com seus costumes insólitos.
Na verdade Cesar se sentia incapaz de compreendê-los e uma intuição muito
fina lhe dizia que não eram confiáveis.
Não os culpou pelas mortes da sua família e da sua cidade, mas tão pouco se
apiedou deles. Na época julgou-se muito aquém de qualquer possibilidade de
um ato de piedade.
Estava com quarenta e oito anos quando a epidemia devastou Terra Alta
destruindo vidas e famílias inteiras, destruindo a sua família e jogando-o nos
braços da loucura porque a traição da morte o obrigou desertá-la.
Já não conversava com a morte como com uma amiga.
E aos cinquenta anos, viajava o mundo acompanhando Victor na sua fuga
raivosa que duraria os próximos quatorze anos. Sentia-se finalmente capaz de