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Capítulo 22 O Khipus das Estrelas
Para Victor a aventura andina de Cesar tinha um importante componente
educativo. Muito mais do que místico ou esotérico e espiritual, as andanças
de Cesar pelos Andes e em busca de suas origens Astu Ninan foram, no
entender de Victor, um fator de aceitação de si mesmo.
Reconheceu no cunhado uma mudança tão significativa, um brilho tão novo
e pungente no olhar, uma força calma e intransigente que crescia de alguma
nova capacidade de entendimento que ele adquirira e se impunha tão
determinada, que era forçoso acreditar que lhe vinha d’alma.
Victor intuiu que finalmente se lhe apresentava a resposta a uma pergunta
que se fizera anos atrás sobre como Cesar em sua genialidade conseguiria lidar
com a tragédia da sua existência e intimamente aplaudiu a mudança de
postura adotada pelo cunhado.
Julgou extraordinário, e ao mesmo tempo inteligente, Cesar haver se
convertido no único Astu Ninan em quem a herança indígena se sobrepôs às
décadas de polimento e submissão aos costumes do homem branco e
desconfiou que dali em diante notariam nele, mais marcadamente, uma veia
mística.
E isso, na avaliação de Victor, daria a Cesar seu verdadeiro status social
vitorioso em todos os sentidos.
E Victor acertou, em parte, sua análise.
Cesar se transformou de inseguro e tartamudeante herdeiro excêntrico, em um
escritor e pensador com raízes nos costumes e na cultura dos povos andinos.
De esquisito ele passou a ser exótico, com experiências diferentes, digno do
interesse daqueles que engrossariam a multidão de seus fãs.