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aliás como vivi por toda minha vida, pelo quê, eu te agradeço”. Então o pássaro
                      grasnou  um  grasnado  longo  e  com  uma  nota  profundamente  triste,  para
                      depois fazer sua derradeira pergunta. “__E quando chegar o momento da sua
                      última palavra neste mundo. O que você dirá?” O Condor fixava-o, exigindo a
                      resposta, agitando a cabeça pelada de penas a emergir de um colarinho de
                      plumas imaculadamente brancas. E dessa vez Cesar não precisou refletir nem
                      um segundo, respondeu com a voz embargada pelas lágrimas e pela dor. Com
                      o resquício de força que conseguiu reunir, ele disse.


                       “__Victor.”

                      Fechou  os  olhos  para  a  explosão  brilhante  da  luz  do  sol,  sentiu  a  dor
                      dilacerante das garras que se enfiaram nos seus ombros e estremeceu com o
                      eco do grito da rapina reverberando pelas rochas do precipício que receberia
                      seus restos, até finalmente ser completamente envolvido por um manto de
                      escuridão, para então, não ver e não sentir mais nada.










                      O rosto que viu ao acordar foi o de Victor.


                      Seu cunhado estava com o cenho franzido e com um ar levemente impaciente,
                      observando-o.  Ao  percebê-lo  desperto  e  razoavelmente  consciente  Victor
                      soltou um suspiro que revelou o quanto andava preocupado. Disse para ele.
                      “__Afinal, acordou. Você está dormindo há mais de quarenta e oito horas.”

                      Cesar fechou mais uma vez os olhos convencido de que ao abri-los novamente,
                      a ilusão do rosto de Victor tão perto do seu, teria sumido e ele precisaria voltar
                      para aquele espaço vazio com sombras, escuridão e lampejos em madrepérola.
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