Page 336 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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aliás como vivi por toda minha vida, pelo quê, eu te agradeço”. Então o pássaro
grasnou um grasnado longo e com uma nota profundamente triste, para
depois fazer sua derradeira pergunta. “__E quando chegar o momento da sua
última palavra neste mundo. O que você dirá?” O Condor fixava-o, exigindo a
resposta, agitando a cabeça pelada de penas a emergir de um colarinho de
plumas imaculadamente brancas. E dessa vez Cesar não precisou refletir nem
um segundo, respondeu com a voz embargada pelas lágrimas e pela dor. Com
o resquício de força que conseguiu reunir, ele disse.
“__Victor.”
Fechou os olhos para a explosão brilhante da luz do sol, sentiu a dor
dilacerante das garras que se enfiaram nos seus ombros e estremeceu com o
eco do grito da rapina reverberando pelas rochas do precipício que receberia
seus restos, até finalmente ser completamente envolvido por um manto de
escuridão, para então, não ver e não sentir mais nada.
O rosto que viu ao acordar foi o de Victor.
Seu cunhado estava com o cenho franzido e com um ar levemente impaciente,
observando-o. Ao percebê-lo desperto e razoavelmente consciente Victor
soltou um suspiro que revelou o quanto andava preocupado. Disse para ele.
“__Afinal, acordou. Você está dormindo há mais de quarenta e oito horas.”
Cesar fechou mais uma vez os olhos convencido de que ao abri-los novamente,
a ilusão do rosto de Victor tão perto do seu, teria sumido e ele precisaria voltar
para aquele espaço vazio com sombras, escuridão e lampejos em madrepérola.