Page 335 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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cordas e correntes e sustentar seu peso para levá-lo para o alto, voando com
                      ele sobre um descampado ou sobre alguma rocha sem vegetação, para soltá-
                      lo de lá de cima e se assegurar da sua morte, então o que o pássaro faria seria
                      ir arrancando pedaços de sua carne. Algumas partes suas como seus dedos, o
                      nariz, as orelhas e os olhos, fatias das faces, nacos da carne ensanguentada
                      sobre  seu  estômago  e  quadris.  Por  esse  motivo  seria  ótimo  aquele  bico  e
                      aquelas garras serem mesmo bem afiadas.


                      Finalmente  o  grande  pássaro  pousou  numa  saliência  da  rocha,
                      aproximadamente  um  metro  e  meio  acima  de  onde  Cesar  se  entregava
                      exausto, ao momento inevitável. Com o fechar das grandes asas a sombra, que
                      até  então  pairara  sobre  a  fronte  de  Cesar,  extinguiu-se  e  os  raios  do  sol
                      voltaram a fustigá-lo. Cesar pensou que agora não demoraria muito para o
                      Condor vir cravar as garras na sua carne ferida.

                      Como num sonho ouviu uma voz grave e gentil falando dentro da sua cabeça
                      e então soube, sem a menor dúvida, que estava delirando.

                      A voz perguntou. “__Você sabe quem eu sou?” E Cesar fez um esforço supremo
                      para vencer a dor e o medo e olhar para o pássaro uma vez mais, só para se
                      certificar de que ainda veria a forma impressionante do Condor. Mas o sol
                      sobre seus olhos permitiu-lhe apenas visualizar vagamente as penas negras
                      agitadas com o vento e os olhinhos de ave de rapina pregados nele, em meio a
                      raios luminosos e ofuscantes. Respondeu em pensamentos. “__Você é o rei dos
                      céus dos Andes. O maior e mais majestoso dos pássaros das terras e das montanhas
                      andinas.”  E  a  voz  insistiu.  “__É  no  que  você  realmente  quer  acreditar?”
                      “__Sim.”  Respondeu  Cesar  num  fio  de  voz,  evitando  a  todo  custo  deixar
                      aflorar aos seus lábios o nome que sabia ser daquela que lhe falava. E a voz
                      continuou. “___E você se julga especial por eu vir até você, me mantendo nesta
                      forma de pássaro que você pode encarar sem real espanto ou temor, que você conhece
                      e ingenuamente admira?” Cesar precisou refletir por um instante porque intuiu
                      que  daquela  resposta  dependeria  ele  viver  mais  alguns  minutos.  Afinal,
                      respondeu  para  o  pássaro.  “__Não  especial,  mas  incrivelmente  privilegiado,
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