Page 333 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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que os havia emboscado e provocado o tiroteio. No entanto tentou gritar mais
uma vez e sua voz se perdeu no infinito para voltar meio esfiapada, destroçada
num eco mal formado que mais parecia uma voz do além do seu futuro se ele
não fosse içado dali, daquele balouçar-se macabro sobre uma morte estúpida.
Agora o inchaço do corpo pendurado, fazia a corda se apertar como um
garrote e Cesar sentia sua pele se rasgar. Grandes nódoas de sangue
começaram a manchar a camisa de tecido cru, rústico e áspero, com que os
guerrilheiros o vestiram.
Procurou na rocha algum apoio para os pés onde pudesse descansar um pouco
o peso do corpo, diminuindo a pressão da corda na cintura, mas não conseguia
manobrar a maldita lanterna para se permitir ser ajudado pelas próprias
mãos.
E o calor agora estava insuportável. Uma sede atroz o fazia agonizar.
Passavam-se as horas. Cesar esperava a chegada dos guerrilheiros como
esperaria pela vinda dos melhores amigos, mas eles não chegavam.
Voltou à noite e com ela um frio cortante. Novas nuvens se formaram e
continuaram baixas e Cesar se sentiu envolver pela neblina espessa e suas
roupas e todo ele se umedecer. Pensou que talvez lhe fizesse algum bem àquela
umidade na pele porque era uma forma de absorver água, mas se preparou
para um martírio ainda maior com a corda de fibras que, depois de molhada,
torraria ao sol durante o transcorrer do dia, piorando muito o efeito do
estrangulamento.
Quando amanheceu novamente Cesar foi sacudido de sucessivos desmaios por
sua mente que lutava pela vida, mas mesmo seus momentos despertos não
poderiam ser exatamente descritos como conscientes. Em todo caso esteve
alerta o suficiente para perceber elementos novos ao redor. Percebeu uma
sombra que ia e vinha sucessiva e constantemente e logo depois um
barulhinho como um flap, flap, suave, rápido e que ia se aproximando.